Mais de 200 pessoas participaram, em Meruri (MT), da celebração que marcou a abertura do Ano Jubilar pelos 50 anos da morte dos Servos de Deus Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo, assassinados em 15 de julho de 1976 durante missão junto ao povo indígena Boe-Bororo. O momento de fé, memória e interculturalidade teve início no cemitério local e seguiu em procissão até a igreja Sagrado Coração de Jesus.
Ritual Bororo abre a celebração no cemitério
No início da celebração, houve um ritual fúnebre tradicional Bororo, entoado pela indígena Emília de Abreu. Como parte do canto de luto (wagé), Emília se arranhou até sangrar e espalhou seu sangue sobre os túmulos de P. Rodolfo e Simão, num gesto simbólico de reviver a dor da perda. Segundo ela, “quem tem consideração, quem conhece, quem sabe o que é a dor, se corta”. A prática, profundamente ligada à tradição Boe-Bororo, é feita para relembrar e honrar os falecidos, especialmente os que morreram de forma trágica.
Procissão penitencial revive a memória do martírio
A celebração seguiu com um ato penitencial, em forma de procissão que saiu do cemitério e percorreu a comunidade. Durante o percurso, os participantes entoaram a ladainha de todos os santos, intercalada com a leitura de relatos históricos do dia 15 de julho de 1976. As reflexões foram conduzidas pelo P. Tiago Eliomar Gonçalves de Morais, delegado inspetorial para missões da Inspetoria de São Paulo. Os trechos lidos foram retirados, em sua maioria, dos escritos do falecido Padre Virgílio Leite Ochoa, salesiano que acompanhou de perto os fatos, além de testemunhos de irmãos e familiares de Simão Bororo. A cada estação da procissão, uma nova parte da história era narrada, conduzindo os fiéis a um momento de dor e contemplação.
Reconhecimento ao trabalho missionário
A missa foi inicialmente presidida por Dom Paulo Renato Fernandes Gonçalves de Campos, bispo da Diocese de Barra do Garças. Em um gesto simbólico e de reconhecimento ao trabalho realizado pelos salesianos e pelas Filhas de Maria Auxiliadora junto aos povos originários de Mato Grosso, Dom Paulo passou a presidência da celebração ao P. Ricardo Carlos, inspetor da Missão Salesiana de Mato Grosso.
Testemunho do Inspetor sobre o martírio e a evangelização inculturada
P. Ricardo Carlos, inspetor da Missão Salesiana de Mato Grosso, destacou o valor do testemunho de P. Rodolfo e Simão:“Esses irmãos que deram a vida aqui nessas terras são um verdadeiro testemunho para nós. Jesus falou que a grande prova de amor é doar a própria vida e eles são exemplos para nós. É justamente o martírio desses dois Servos de Deus que representa essa aliança, esta comunhão, ou seja, do missionário que vem a essa terra. Trazer, sim, a semente do Evangelho, mas um Evangelho inculturado.Esses Servos de Deus são um presente para nós, salesianos, para a Inspetoria, para a Congregação e também para a Igreja. A Diocese de Barra do Garças é agraciada com a causa de martírio desses dois Servos de Deus, que para nós são irmãos que derramaram o sangue por amor ao povo Boe-Bororo e por amor ao Evangelho de Jesus Cristo”.