Em entrevista ao Vatican News, o bispo estadunidense John P. Dolan, aborda a questão da saúde mental na sociedade atual, um dos desafios pastorais da Igreja. O prelado enfatiza a necessidade de uma aliança entre fé e ciência para enfrentar o problema.
Hoje, muitas famílias enfrentam o problema, por vezes dramático, de doenças ou sofrimento mental. Numa entrevista ao Vatican News, o bispo John P. Dolan, de Phoenix, Estados Unidos, falou sobre as famílias que "têm de suportar a dor de perder um ente querido por suicídio ou de vê-lo morrer diante dos seus olhos enquanto luta contra problemas de saúde mental". São situações em que nos sentimos impotentes e, muitas vezes, incapazes de ajudar os nossos entes queridos. Por trás das reflexões de dom Dolan não estão apenas palavras e teorias, mas também o seu próprio drama familiar: um irmão, duas irmãs e um cunhado cometeram suicídio.
Nessas situações, ele enfatiza, é fácil ceder à tentação de recorrer a soluções simplistas. Simplesmente convidá-los a retornar às práticas religiosas ou a buscar atendimento médico não é suficiente. "Devemos apenas dizer para eles voltarem à igreja? Bem, isso não é certo que vai funcionar. Ou que devemos levá-los a um psiquiatra? Não é um mau ponto de partida, mas também não é suficiente", afirma o prelado, descrevendo o problema dos chamados "conselhos de ouro" para pessoas em crise.
Aliança entre fé e ciência
Segundo o bispo de Phoenix, o cuidado pastoral da saúde mental deve abranger a pessoa como um todo: "O que temos observado é que, no cuidado pastoral da saúde mental, queremos fazer tudo isso, todas as coisas mencionadas acima." Isso significa, simultaneamente, convidar a comunidade eclesial a participar do problema e incentivar o uso de ajuda profissional. Portanto, "convidá-los a vir à igreja... e, ao mesmo tempo, incentivá-los a procurar conselheiros, psiquiatras ou psicólogos."
Dom Dolan rejeita com veemência a oposição entre fé e ciência: "Não queremos competir; queremos trilhar o mesmo caminho juntos: fé e ciência juntas." A psiquiatria e a psicologia, explica ele, não são uma ameaça à fé, mas sim aliadas: "Deus nos deu o maravilhoso dom da ciência, da psiquiatria e da psicologia."
Acompanhamento nas periferias
Explicando o significado de seu brasão episcopal, "Permanecei no meu amor", dom Dolan falou sobre o simbolismo do coração, que bombeia sangue para as periferias do corpo. O mesmo vale para a pastoral da saúde mental: "A pastoral da saúde mental está alcançando as periferias... o corpo mais amplo de Cristo e o mundo inteiro."
Sua essência, explicou ele, não é "consertar" uma pessoa, mas estar presente. "Sempre dizemos que não diagnosticamos, não prescrevemos, não tratamos doenças, mas acompanhamos." Ele enfatizou que isso não é um programa ou um projeto pastoral: "É verdadeiramente um ato de amor... que nasce do Sagrado Coração de Jesus."
Três ações chaves
O bispo destacou três linhas de ação particularmente importantes empreendidas na Diocese de Phoenix. A primeira é a educação — especialmente para o clero — na área dos chamados primeiros socorros em saúde mental: "Isso ajuda a preparar o sacerdote ou diácono para entender o que pode acontecer", reconhecendo os sinais de crise.
A segunda área é a defesa dos direitos e a presença em contextos particularmente vulneráveis, incluindo prisões. A Diocese de Phoenix, explicou ele, está desenvolvendo programas de apoio e "acompanhamento nas prisões", considerando a importância de construir relações nas difíceis condições de isolamento.
O terceiro passo, muito concreto, diz respeito a medidas sistêmicas. dom Dolan enfatizou que, no condado de Maricopa, no Arizona, eles conseguiram dobrar o número de leitos para pacientes com crise mental: "Passamos de 350 para 600 leitos; precisamos de mais. Foi uma empreitada dispendiosa, mas necessária."
Crescer na consciência de sermos filhos amados de Deus
A pastoral da saúde mental, observou o bispo de Phoenix, também inclui um seminário espiritual: "Integramos a pastoral da saúde mental em nosso seminário para que vejam que este tema não é algo a ser evitado, mas algo que abraçamos." O objetivo, concluiu ele, é uma compreensão mais profunda de si mesmo e um crescimento enraizado na consciência de sermos filhos amados de Deus.

