Terminou no sábado, 15 de novembro, a primeira semana da COP30, atualmente em andamento em Belém do Pará, no Brasil, com milhares de pessoas desfilando pelas ruas da cidade amazônica em poderosa manifestação, para exigir justiça climática. O desfile reuniu membros de comunidades indígenas, organizações da sociedade civil e ativistas ambientais, numa das mobilizações públicas mais significativas da Conferência.
Um momento histórico para a democracia climática
O P. Mathew Thomas, representante dos Salesianos de Dom Bosco junto às Nações Unidas e participante da COP30, descreveu o desfile como um dos momentos mais marcantes da primeira semana: “Foi como assistir à história sendo feita. A COP30 de Belém está se mostrando muito mais viva do que as anteriores – no Azerbaijão e em Dubai – . As ruas de Belém pulsavam com cantos, palavras de ordem, coros, orações e as cores vibrantes da Esperança, enquanto milhares de pessoas se uniam à marcha por justiça climática. Foi democracia em movimento, liberdade vivida em voz alta”.
A atmosfera da marcha refletiu um distanciamento dos ambientes mais controlados das conferências climáticas anteriores, injetando energia e urgência popular nos trabalhos da COP30.
Uma voz sem filtros da sociedade civil
O P. Silvio Torres, da Inspetoria da Argentina Norte (ARN) que também estava presente na COP30, disse que a marcha não fazia parte da agenda oficial da conferência, mas surgiu como uma iniciativa espontânea dos participantes da sociedade civil: “Não era um programa oficial elaborado pelos organizadores da COP30. Era a voz da sociedade civil, sem filtros, mas absolutamente inevitável. Era o que as pessoas precisavam dizer, o que continuavam insistindo e o que declaravam corajosamente para o mundo ouvir. A própria marcha foi uma forma de negociação, uma tentativa poderosa de influenciar os acordos, compromissos e resultados da COP30”. A ação evidenciou a tensão recorrente entre os processos diplomáticos formais e as demandas das populações mais afetadas pelas mudanças climáticas.
Uma coalizão de vozes, das periferias ao centro
A marcha reuniu uma coalizão extraordinária e diversa de participantes. “Comunidades ecumênicas, associações multirreligiosas, povos indígenas, jovens, idosos, ativistas e aliados de todos os continentes – todos estavam lá!”, afirmou o P. Torres. “Parecia que aqueles que por muito tempo foram empurrados para as margens haviam tomado o centro, transformando as ruas em um palco global”.
A participação das comunidades indígenas foi especialmente notável, pois a COP30 ocorre no coração da Amazônia, lar de diversos povos indígenas que têm desempenhado um papel crucial na proteção do meio ambiente, mas que também lidam com constantes ameaças aos seus territórios e estilos de vida.
Uma exigência não negociável
O recado da marcha foi claro. “As vozes das pessoas comuns precisam ser ouvidas. Os resultados da COP30 devem incluir as reivindicações da sociedade civil”, disse o P. Mathew Thomas. “A justiça climática não é uma opção: é uma exigência inegociável que a COP30 deve atender”.
Esse apelo por justiça climática engloba múltiplas dimensões: distribuição equitativa de financiamento climático; reconhecimento da responsabilidade histórica pelas emissões; proteção das comunidades vulneráveis; e inclusão das vozes da linha de frente nos processos de tomada de decisão.
Presença salesiana e caminhos a serem percorridos
O P. Thomas, o P. Torres e Camila de Paula, da Inspetoria de Brasil-Belo Horizonte (BBH), representaram a ‘Don Bosco Green Alliance’ na COP30. Sua participação reflete o empenho salesiano pela gestão ambiental e a defesa dos pobres e marginalizados, que sofrem de modo desproporcional os efeitos da crise climática, apesar de serem os que menos contribuem para ela.
A conferência inicia, agora, sua segunda e última semana, fase em que se negociarão e finalizarão os resultados; resultados que afetarão significativamente a política climática, a colaboração internacional e o futuro das comunidades ao redor do Mundo, principalmente nas áreas mais vulneráveis, como a Bacia amazônica. As ruas de Belém deixaram evidente que qualquer acordo estabelecido precisa atender às urgentes reivindicações por justiça daqueles que estão na linha de frente da crise climática. Com a conferência se aproximando do fim, é ainda incerto se os trabalhos oficiais conseguirão atender a essas demandas.



