Ele foi trespassado por nossas transgressões, ferido por nossos pecados…por suas chagas fomos curados” (Is 53, 5).

Chegamos mais uma vez ao ápice de nossa caminhada na Fé: a Celebração Anual da Páscoa do Senhor. Em Jesus, e no mistério de sua Paixão, Morte e  Ressurreição, encontramos o fundamento de nossa Fé. Cristo, o Senhor, vence o pecado e a morte e nos resgata para o seu Reino Eterno e Pleno.

Neste ano de 2024, nossa Semana Santa é celebrada entre os dias 24 a 29 de abril. A Semana Santa é o coração do Ano Litúrgico.

Na Semana Santa, a Igreja celebra os mistérios da salvação levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias de sua vida, a começar pela sua entrada messiânica em Jerusalém.

O envolvimento do povo nos ritos da Semana Santa é grande. Alguns trazem ainda os traços da sua proveniência dentro do âmbito da piedade popular. Entretanto, aconteceu que, durante séculos, se produziu, nos ritos da semana Santa, uma espécie de paralelismo celebrativo, segundo o qual há como que dois ciclos com impostação diferente: um rigorosamente litúrgico, o outro caracterizado por particulares práticas de piedade, especialmente as procissões, vias sacras, rezas do terço e outras devoções.

Relativamente à Semana Santa, de fato, a atenção e o amor para com as manifestações de piedade tradicionalmente caras ao povo devem levar à necessária estima das ações litúrgicas, certamente sustentada pelos atos de piedade popular.

A Semana Santa é a coroação do tempo da Quaresma. Nos quarenta dias em que a comunidade experimentou, com mais intensidade, a exigência do seguimento de Jesus, teve a oportunidade de aprofundar sua conversão pessoal e o seu compromisso social. Agora é convidada a celebrar com autenticidade o mistério central da nossa fé: Jesus Cristo, morto ressuscitado .

Acompanhando Jesus em Jerusalém, a comunidade cristã recebe em seu meio o Cristo Messias, que vem irradiar a sua luz, comunicar a sua paz e nos encher da sua alegria. Essa experiência acontece em cada celebração, em cada eucaristia.

DOMINGO DE RAMOS

A Semana Santa começa no Domingo de Ramos da paixão do Senhor que une ao mesmo tempo o triunfo régio de Cristo e o anúncio da Paixão. A procissão que comemora a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém tem caráter festivo e popular. Os fiéis gostam de guardar em suas casas e às vezes nos lugares de trabalho os ramos de palmeira, de oliveira ou de outras árvores que foram benzidos e levados na procissão.

QUARTA-FEIRA DA SEMANA SANTA

Procissão do Encontro

A piedade popular leva sempre em conta a verdade e singeleza dos símbolos. A essa ação litúrgica, destaca-se: o andor de Jesus (Senhor dos Passos) e o andor de Nossa Senhora das Dores. Comumente, os homens saem com o andor de Jesus e as mulheres, com o andor de Maria. Ou um andor sai de uma comunidade ou lugar e outro, de outra comunidade, ritualizando bem o encontro final das duas procissões.

VIA-SACRA

Paixão de Cristo – nossa Redenção  Desde os primórdios do Cristianismo, os fiéis dedicaram profunda veneração aos lugares santificados pela vida, a morte e a glorificação do Senhor Jesus. De  longínquas regiões afluíam à Palestina, a fim de lá orar, deixando-nos, em consequência, suas narrativas de  viagem, das quais as mais importantes na antiguidade são a de Etéria e a do peregrino de Bordéus (séc. IV).

Voltando às suas pátrias, esses peregrinos não raro procuravam reproduzir, por meio de quadros ou  pequenos monumentos, os veneráveis locais que haviam visitado.

O exercício da Via Sacra consiste em que os fiéis percorram mentalmente a caminhada de Jesus a carregar a Cruz desde o pretório de Pilatos até o monte Calvário, meditando simultaneamente a Paixão do Senhor. Tal exercício, muito usual no  tempo da Quaresma, teve origem na época das Cruzadas (séculos XI/XIII): os fiéis que então percorriam na Terra Santa os lugares sagrados da Paixão de Cristo, quiseram reproduzir no Ocidente a peregrinação feita ao longo da Via Dolorosa em Jerusalém. O número de estações ou

etapas dessa caminhada foram sendo definido paulatinamente, chegando à forma atual, de quatorze estações, no século XVI. O exercício da Via Sacra tem sido muito recomendado pelos Sumos  Pontífices, pois ocasiona frutuosa meditação da Paixão do Senhor Jesus.

TRIDUUM PASCHALE - TRÍDUO PASCAL

No Ocidente, os documentos litúrgicos sobre a celebração do Tríduo Pascal são poucos. Contudo, Santo Ambrósio (†397) já refere o  termo “Triduum Sacrum” e Santo Agostinho (†430) usa, claramente,  a expressão “Sacratissimum Triduum” para indicar os dias em que

Cristo sofreu, repousou no sepulcro e ressuscitou. Por tal motivo, o Tríduo Pascal não constitui uma preparação da solenidade da  Páscoa, mas é, verdadeiramente, a celebração da morte e da  Ressurreição de Cristo, da qual resplandece a novidade de vida em Cristo que brota da sua morte redentora. O tríduo pascal envolve três momentos do mistério em uma única celebração.

O significado teológico dos três dias é realçado pelo Catecismo da Igreja Católica, nestes termos: “Partindo do Tríduo pascal, como da sua fonte de luz, o tempo novo da Ressurreição enche todo o ano litúrgico da sua claridade. Ininterruptamente, dum lado e doutro desta fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. É realmente “ano da graça do Senhor” (n. 1168). E, a seguir, acrescenta: “É por isso que a Páscoa não é simplesmente uma festa entre outras; é a “festa das festas”, “solenidade das solenidades”, tal como a Eucaristia é o sacramento dos sacramentos (o grande sacramento). Santo Atanásio chama-lhe “o grande Domingo”, tal como a semana santa é chamada no Oriente “a semana maior” (nn. 1168-1169).

O centro celebrativo da Páscoa acontece no Tríduo Pascal. O Tríduo Pascal da morte e ressurreição de Jesus constitui o centro de toda a vida de fé das comunidades cristãs e do ano litúrgico. Nele, celebramos a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus que o Cristo realizou quando, morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando, renovou a vida.

Começa com a Missa vespertina da Ceia do Senhor, possui o seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.

QUINTA-FEIRA SANTA - CEIA DO SENHOR

Esta é a noite santa do Senhor e nós somos chamados a mergulhar no mistério redentor de Cristo. Os gestos de Jesus, carregados de amor e de misericórdia, vêm nos ensinar a fazer da vida uma oferenda ao Senhor. Eles nos abrem a visão para um horizonte de plenitude de vida e nos deixam marcados para sempre. Porém, o que vamos celebrar deve nos impulsionar para sermos  cristãos e missionários do Reino, aqui e agora.

EUCARISTIA: Sua celebração está unida ao sacrifício da Cruz e nos torna unidos a ele com toda a sua força salvífica. Em cada Eucaristia que celebramos, Cristo continua a lavar-nos os pés, convidando-nos a fazer o que ele fez. No Cenáculo, ele quis que, pelo sacerdócio ordenado, pudéssemos celebrar com ele até o fim dos tempos o mistério da Cruz, isto é, a sua eterna oferenda ao Pai pela salvação de todos. Então Sacerdócio, Eucaristia e Lava-pés formam o tripé de toda a vida cristã. O Lava-pés pode ser considerado como o ícone do amor da Igreja.

SEXTA-FEIRA SANTA - PAIXÃO DO SENHOR

Eis a doação perfeita do amor: o Redentor aniquilou-se a si mesmo, humilhando se na morte de cruz, para que tivéssemos a vida e a salvação. Abraçou a cruz, silencioso. Os poderosos a serviço do pecado julgaram e condenaram o Inocente.

Em Cristo, a mentira e a ganância, a distinção e o prestígio não têm lugar. Nele somente são possíveis o amor e a misericórdia. Quem quiser segui-lo, é isso que Ele nos propõe.

Saibamos, no entanto, que, mesmo em clima de viva paixão, nesta Liturgia a cruz não é de “dolorismo”, mas cruz triunfante, madeiro sagrado, tanto é verdade que

é adorada pelos fiéis. A cruz é o instrumento de nossa salvação, o contrário da árvore do Gênesis, que foi o madeiro de nossa perdição. Por isso, na celebração não são cantados somente os impropérios (Lamentos do Senhor), mas também cantos de exaltação da cruz. No terceiro momento, a comunhão eucarística nos leva à memória (anamnese) da celebração do dia anterior.

SÁBADO SANTO – VIGÍLIA PASCAL

Noite da Vida e da Paz! Noite da Luz! As trevas foram dissipadas pela Luz que jamais se apaga . Nesta noite santa da Páscoa do Senhor, reconhecemos o amor ao extremo que venceu as trevas do egoísmo, do orgulho e da violência. No poder de seu amor gratuito e transformador somos também ressuscitados com Ele.

Agradeçamos ao Pai nesta noite, pois Ele ressuscitou seu Filho, o Redentor do mundo. Liturgicamente, temos a Vigília Pascal, a Noite das Noites. Na Vigília Pascal temos: Liturgia do fogo: o acendimento do círio pascal, representando a luz que sustentará e manterá acesa a fé. Apresentam as letras Alfa e Ômega e a data do ano, demonstrando a atualização anual deste mistério. Há também cinco cravos que representam as 5 chagas de Cristo. Demonstrando que a noite da Cruz antecede a o raiar da ressurreição. Liturgia da Palavra: percorre a história da salvação do Antigo ao Novo Testamento relacionando-os. Liturgia

Batismal: renovação das promessas de Batismo. Liturgia Eucarística: o banquete que o Senhor nos preparou.

DOMINGO DA PÁSCOA DO SENHOR

Este é o Dia do Senhor, dia de alegria, de exultação e de festa da vida. O Senhor ressuscitou! Feliz Páscoa! Aquele que foi humilhado e ultrajado venceu a morte e a infâmia com sua ressurreição. Feliz quem nele fundamenta sua vida, pois terá a vida em plenitude. Recusar essa verdade é perder a própria vida. A eternidade penetrou o mundo e o coração humano. Deixemos-nos, pois, nos conduzir com a força do Senhor ressuscitado e presente entre nós.

A ressurreição não é mero milagre que mostra a divindade de Jesus: Deus não pode morrer! Também não é uma vingança sobre os inimigos que o mataram!

É muito mais: é a resposta de Deus às nossas mais profundas interrogações e por isso é a mais bela notícia que temos. Nossa história não termina com a morte. E através da Ressurreição Jesus vem selar o que pregou, vem dar fundamentação ao seu projeto, vem dizer que o Reino anunciado é de verdade o Reino de Vida, de Verdade e de Justiça!

A oração do dia realça o sentido da “ressurreição de Jesus” como acontecimento central da nossa fé: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova”. O Ressuscitado caminha conosco, sustentando a nossa fé e esperança nesse momento de trevas e morte, causada pela pandemia.

No texto do evangelho segundo João (Jo 20,1-9), Maria de Mágdala se dirigiu ao sepulcro no alvorecer do “primeiro dia da semana”, quando ainda estava escuro. A ressurreição de Jesus inaugura a nova criação, a vitória da vida sobre o pecado da injustiça e da morte. A caminhada de fé da comunidade leva a compreender os sinais do sepulcro, o poder da vida que vence a morte pelo amor solidário.

Reviver os mistérios de Cristo significa também viver em profunda e solidária adesão ao hoje da história, convictos de que quanto celebramos é realidade viva e atual. Tenhamos, portanto, presente na nossa oração a dramaticidade de fatos e situações que nestes dias afligem tantos irmãos nossos em todas as partes do mundo. Sabemos que o ódio, as divisões, as violências nunca têm a última palavra nos acontecimentos da história.

Estes dias reanimam em nós a grande esperança: Cristo crucificado ressuscitou e venceu o mundo. O amor é mais forte que o ódio, venceu e devemos associar-nos a esta vitória do amor.

Portanto, devemos partir de novo de Cristo e trabalhar em comunhão com Ele para um mundo fundado sobre a paz, sobre a justiça e sobre o amor. Neste empenho, que a todos compromete, deixemo-nos guiar por Maria, que acompanhou o Filho divino pelo caminho da paixão e da cruz e participou, com a força da fé, na concretização do seu desígnio salvífico.

Esse arquivo foi escrito pelo P. Edilson Agreson da Silva, SDB

BIBLIOGRAFIA DE APOIO

1. BÍBLIA.A Bíblia de Jerusalém. Nova edição revisada e ampliada. São Paulo: Paulus, 1985.

2. CATECISMO da Igreja Católica. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Loyola, 1993.

3. ALDAZÁBAL, J. A eucaristia. Petrópolis: Vozes, 2002.

4. BINGEMER, Maria Clara Lucchetti. Em Tudo Amar e Servir: Mística trinitária e práxis cristã

em Santo Inácio de Loyola. São Paulo: Loyola, 1990.

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