A vida de Artemides Zatti é um evangelho vivo, uma narrativa palpável de como a graça de Deus, quando acolhida com gratidão, se transforma em missão ardente e serviço incansável. Sua história, guiada pelo lema "Acreditei, Prometi, Curei", entrelaça-se profundamente com os apelos que nos foram recordados: o cuidado com o próximo, especialmente o mais vulnerável, e a gratidão como fundamento da nossa relação com Deus e com os irmãos. 

 

A Fonte da Missão 

 

A experiência fundamental que moldou Zatti foi a sua cura da tuberculose. Ele não a viu como um direito ou um evento casual, mas como um dom gratuito de Deus, recebido através da intercessão de Nossa Senhora Auxiliadora. Como o samaritano do Evangelho que, curado da lepra, volta para agradecer a Jesus, Zatti fez do dom recebido "o princípio de um novo caminho". A sua promessa não foi um simples "obrigado" dito e esquecido; foi uma entrega total da sua vida. A sua gratidão não foi apenas um sentimento, mas uma gratidão ativa, uma gratidão-missão. 

Ele é a antítese da "grave doença espiritual" de dar tudo como garantido. Curado, ele não "prosseguiu pela sua estrada"; pelo contrário, a sua estrada tornou-se o hospital e a farmácia de Viedma. A sua vida tornou-se um permanente "obrigado" a Deus, expresso no cuidado "com amor e ternura dos doentes". Ele não guardou o dom para si; tornou-se um canal, através do qual a graça recebida fluía para os outros. 

 

Cuidar dos Irmãos: Receber, não explorar 

 

A pergunta "recebemo-los como irmãos ou exploramo-los?" ecoa poderosamente na prática de Zatti. Ele não era um gestor de saúde distante; era um irmão para os doentes. A regra que herdou do Padre Garrone – "quem tem pouco, paga pouco, e quem não tem nada, não paga nada" – é a resposta prática e evangélica a essa pergunta. Num mundo que frequentemente explora os mais frágeis, Zatti construiu um espaço de acolhimento incondicional, onde a dignidade humana vinha antes do lucro. 

O relato de que foi visto "carregar aos ombros o corpo morto de um dos seus doentes" é a imagem mais clara deste cuidado. Ele não cuidava de "casos clínicos", cuidava de irmãos, acompanhando-os até ao último momento, na vida e na morte. A sua bicicleta era um veículo de caridade, que o levava aos enfermos, manifestando que a Igreja não deve esperar que os pobres venham até ela, mas deve ir ao seu encontro. 

 

A alegria: o "obrigado" contagioso de um coração agradecido 

 

Num ambiente de sofrimento como um hospital, Zatti era conhecido pela sua "alegria salesiana". Esta alegria era o sinal exterior de um coração interiormente agradecido. Quando o texto nos adverte para não sermos "cristãos em água de rosas" que já não sabem maravilhar-se, Zatti surge como o exemplo oposto: um homem que nunca perdeu a capacidade de se maravilhar com a Providência e de se alegrar em poder servir. 

Ele "não era apenas um provedor de medicamentos, mas era ele próprio um medicamento para os outros". A sua presença, os seus cânticos, a sua voz eram o "obrigado" encarnado que curava as almas enquanto os remédios cuidavam dos corpos. A sua vida ensina-nos que a verdadeira gratidão "leva-nos a afirmar a presença de Deus amor e também a reconhecer a importância dos outros, vencendo o descontentamento e a indiferença". 

 

Um convite ao "Obrigado" que se torna ação 

 

Artemides Zatti encarna perfeitamente o conselho de Dom Bosco: "Cuidem especialmente dos doentes, das crianças, dos idosos e dos pobres, e receberão a bênção de Deus e o respeito daqueles que os rodeiam". A sua existência foi uma longa, perseverante e alegre ação de graças, vivida sob o signo do "Acreditei, Prometi, Curei". 

A sua figura desafia-nos hoje: 

  • A transformar a nossa gratidão a Deus em gestos concretos para com os que sofrem, os migrantes, os excluídos. 
  • A vencer a indiferença com a proximidade heroica do samaritano e do próprio Zatti, que carregou nos ombros a dor alheia. 
  • A cultivar um "obrigado" diário, não só a Deus, mas a todos os que, "muitas vezes em silêncio, rezam, oferecem, sofrem, caminham conosco". 

 

Que o exemplo deste santo de bicicleta e jaleco nos inspire a não esquecer esta palavra-chave: "obrigado". E que, como ele, possamos dizer o nosso "obrigado" a Deus, ocupando-nos com compaixão das feridas dos nossos irmãos. 

 

Fonte: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2022/documents/20221009-omelia-canonizzazione.html 

https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/2002/documents/hf_jp-ii_hom_20020414_beatification.html 

 

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