A arte de ser como dom Bosco: «Recordai-vos de que a educação é coisa do coração, e de que só Deus é o dono dele, e nós não poderemos conseguir nada, se Deus não nos ensinar a arte dele, e não nos entregar as suas chaves». (MB XVI, 447)
Caros amigos do carisma de Dom Bosco. Escrevo esta saudação, diria quase em direto, antes que este número vá para a tipografia.
Digo isto porque a cena que vou contar-vos aconteceu há só 4 horas.
Cheguei há pouco a Lubumbashi. Há dez dias que ando a visitar presenças salesianas muito significativas, como os desalojados e os refugiados de Palabek - hoje, graças a Deus, em condições muito mais humanas do que quando chegaram até nós - e do Uganda passei para República Democrática do Congo, na atribulada e martirizada região de Goma.
Ali as presenças salesianas são cheias de vida. Muitas vezes disse que o meu coração ficava “tocado” (touché), isto é, comovido ao ver o bem que se faz, ao ver que há uma presença de Deus mesmo na maior pobreza. Mas o meu coração ficou tocado pela dor e pela tristeza quando encontrei algumas das 32. 000 pessoas (na sua maior parte idosos, mulheres e crianças) que são acolhidas nos terrenos da presença salesiana de Dom Bosco-Gangi.
Mas disto falar-vos-ei na próxima vez, porque preciso de o deixar assentar no meu coração.
O “papá” dos gaiatos de Goma
Agora só quero referir uma belíssima cena a que assisti num voo que nos levou a Lubumbashi.
Era um voo extra comercial num um avião de médias dimensões. Mas o comandante era uma pessoa familiar, não em relação a mim, mas aos salesianos locais. Quando cumprimentei o comandante no avião, disse-me que tinha estudado formação profissional na nossa escola aqui em Goma. Disse-me que aqueles tinham sido os anos que haviam mudado a sua vida, mas acrescentou outra coisa, dizendo-me e dizendo-nos: e eis aquele que foi um “papá” para nós.
Na cultura africana, quando se diz que alguém é um apá, diz-se uma coisa extrema. E não raramente o papá não é a pessoa que gerou aquele filho ou aquela filha, mas aquele que realmente cuidou dele, o sustentou e acompanhou.
A quem se referia o comandante, um homem de cerca de 45 anos, com o filho piloto já jovem que o acompanhava em voo? Referia-se ao nosso irmão salesiano coadjutor (isto é, não sacerdote mas leigo consagrado, uma obra-prima do carisma salesiano).
Este salesiano, irmão Honorato, missionário espanhol, é missionário na região de Goma há mais de 40 anos. Fez de tudo para viabilizar esta escola profissional e muitas outras coisas, certamente em conjunto com outros salesianos. Conheceu o comandante e alguns dos seus amigos quando só eram rapazes desorientados do bairro (isto é, entre centenas e centenas de rapazes). Antes, o comandante contou-me que quatro dos seus companheiros, que naqueles anos andavam praticamente na rua, conseguiram estudar mecânica na casa de Dom Bosco e que hoje são engenheiros e se ocupam da manutenção mecânica e técnica dos pequenos aviões da sua companhia.
O «sacramento» salesiano
Pois bem, quando ouvi o comandante, antigo aluno salesiano, dizer que Honorato havia sido seu pai, o pai de todos eles, fiquei profundamente comovido e pensei logo em Dom Bosco, que os seus rapazes sentiam e consideravam como seu pai.
Nas cartas do padre Rua e de Dom Cagliero, Dom Bosco é sempre chamado “papá”. Na véspera do dia 7 de dezembro de 1887, quando a saúde de Dom Bosco piorou, o padre Rua telegrafou simplesmente a Dom Cagliero: «O papá está em estado alarmante!» Um antigo cântico terminava assim: «Viva Dom Bosco nosso papá»!
E pensei como é verdade que a educação é um assunto do coração. E confirmei entre as minhas convicções que a presença no meio dos rapazes, das raparigas e dos jovens é para nós quase um “sacramento” salesiano da presença.
E sei que no mundo salesiano, na nossa família em todo o mundo, entre os nossos irmãos e irmãs houve tantos “papás” e tantas “mamãs” que, com a sua presença e o seu afeto, com o seu conhecimento da educação, tocam o coração dos jovens, que hoje tanta necessidade têm, diria cada vez mais, destas presenças que podem mudar para melhor uma vida.
Daqui da África, uma saudação e todas as bênçãos do Senhor para os amigos do carisma salesiano.
Deus vos abençoe a todos.
A MENSAGEM DO REITOR-MOR, Card. Ángel Fernández Artime