A Páscoa - que em hebraico significa passagem - celebra a saída do povo hebreu da escravidão do Egito para a liberdade. Portanto, é a libertação do povo hebreu que, após longa peregrinação pelo deserto, estabeleceu-se em Canaã, na terra prometida.  

Considerando o que foi dito acima, podemos perceber que a Páscoa é uma festa de origem judaica. Os israelitas, sob o poder do faraó no Egito, foram convocados por Moisés a se prepararem para o dia da grande libertação. Para celebrar este dia, Moisés orientou-os a tomar um cordeiro por família e, uma vez imolado, o sangue deveria ser passado nos umbrais das portas das casas dos israelitas. O sangue nas portas era sinal de proteção para o povo da justiça de Deus quando feriu a terra do Egito. A carne do animal sacrificado, assada ao fogo, deveria ser comida às pressas porque aquele dia era um dia santo, a Páscoa, isto é, a passagem do Senhor. Este evento deveria ser celebrado de geração em geração como um memorial daquele dia santo (cf. Ex 12). Foi o êxodo do povo de Deus, ou seja, a saída deste do Egito em peregrinação, deserto adentro, até a terra da promessa.

A Páscoa cristã tem suas raízes na religião de Israel: o judaísmo. Foi no contexto da celebração da Páscoa judaica – quando todos os judeus peregrinavam à Jerusalém para fazer memória da libertação – que Jesus, segundo os evangelistas, sabendo que seria entregue à morte de cruz, celebrou a sua Páscoa com os discípulos, naquela quinta-feira santa (cf. Mt 26, 2; Mc 14, 1; Lc 22, 1 e Jo 13, 1).  É o que chamamos de Última Ceia. Sentado à mesa com os seus discípulos, Jesus dá um novo sentido à antiga Páscoa dos judeus. A Páscoa de Jesus é a passagem da morte para a vida, quando Ele ressuscitará dos mortos no terceiro dia. Agora, Ele mesmo é o Cordeiro, que será sacrificado, uma única vez, e o seu sangue derramado para resgatar da escravidão do pecado e das amarras da morte todos aqueles que crerem em seu nome. “Isto é o meu corpo que é dado por vós ... Este é o cálice da nova aliança no meu sangue que é derramado por vós”. (Lc 22, 19-20) Estas foram as palavras de Jesus quando celebrou a Páscoa com os seus discípulos. Não é mais o sangue de animais, mas é Ele mesmo que, vivendo o momento da sua paixão redentora, se entrega na cruz, para oferecer a vida nova de Deus a todos. E, assim como Moisés com o povo de Israel, Jesus também pede que a sua Páscoa seja recordada de geração em geração, por isso, diz: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19).

Após a ressurreição, “quando amanhecia o primeiro dia da semana” (Mt 28, 1), os primeiros cristãos começaram a reunir-se para celebrar a Eucaristia, o memorial da páscoa de Cristo, não mais no sábado, mas no domingo, dia do Senhor (At 20, 7; 1Cor 16, 2). É a Páscoa cristã dominical, quando se celebra, ao longo do ano, o acontecimento central da nossa fé cristã.

Na carta aos Romanos, o apóstolo Paulo escreve: “Pelo batismo fomos sepultados juntamente com Cristo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai, assim também nós caminhemos em uma vida nova” (Rm 6, 4). Para nós, cristãos batizados, de ontem, de hoje e de sempre, a Páscoa tem este sentido de vida nova. O cristão, através do batismo, liberta-se da escravidão do pecado e das amarras do mal, e enquanto está neste mundo vive o seu êxodo, ou seja, a esperança de herdar a nova terra prometida, o novo céu. Passará então da morte para a vida, quando será contado entre os que já nos precederam na ressurreição.

A Páscoa cristã não se resume apenas numa esperança ainda distante, mas pode tornar-se realidade aqui e agora. Podemos fazer acontecer a Páscoa quando assumirmos o compromisso, com Jesus, de fazer “novas todas as coisas” (cf. Ap 21, 5). É a passagem de um modo de vida para um outro, em Cristo. É caminhar na novidade de vida como autênticos filhos e filhas de Deus transformando a realidade em que vivemos, muitas vezes ferida pelos sinais de violência e de morte.

E para terminar, é importante recordar dois detalhes importantes que ligam a celebração da Páscoa cristã ao carisma salesiano: foi no dia 12 de abril de 1846, um domingo de Páscoa, que Dom Bosco inaugurou o Telheiro Pinardi, onde os jovens do seu tempo encontraram ajuda e acolhimento. E foi, também, num domingo de Páscoa – 1º de abril de 1934 – que o Papa Pio XI canonizou Dom Bosco. Por isto, celebrar a Páscoa cristã, enquanto Família Salesiana, é um convite a estar em sintonia com o projeto educativo de Dom Bosco, inspirando-nos na sua santidade de vida e continuar promovendo a vida nova do Ressuscitado às crianças, adolescentes, jovens e a todos os que compartilham conosco do mesmo ambiente de missão. 

Feliz e abençoada Páscoa a todos!

 

Texto: Pe. Ádano Islei Pinheiro, SDB

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