“Eis que vos anuncio uma grande alegria...”, disse o anjo Gabriel aos pastores de Belém ao anunciar o nascimento do Menino que haveria de ser o Redentor do Universo. A Salvação da humanidade é um projeto audacioso de Deus, que iniciou na criação do Cosmos e nos alcançou nessa eternidade que chamamos hoje. Participar desse grande projeto de amor deve ser para nós motivo de grande alegria, pois o infinito entrou na nossa finitude para nos tornar capazes do eterno.

A alegria é uma expressão característica dos que professam a fé cristã, revelada na Sagrada Escritura ao descrever o modo de viver das primeiras comunidades cristãs: “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Perseverantes e bem unidos, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que seriam salvas.” (At 2, 44-47) e “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e sobre todos eles multiplicava-se a graça de Deus. Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um. Assim fez José, que os apóstolos chamavam de Barnabé, que significa “filho da consolação”. Era levita, natural de Chipre.” (At 4, 32-35).

Essa expressão máxima de alegria e a necessidade de testemunhar a ressurreição de Cristo fez com que muitas pessoas acreditassem em Jesus e aceitassem o batismo, como Tertuliano, que chegou a expressar admirado: “Veja com eles se amam!”(Apologética 39).

O testemunho da alegria fraterna é capaz de mover os corações em direção àquele que é a fonte, a origem e a expressão máxima da alegria, Jesus, O Cristo Ressuscitado. Por isso que, a cada ano, a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus não é uma mera repetição de acontecimentos, mas a memória do evento causador da nossa verdadeira alegria, atualizado em nossas paixões cotidianas, em vista da nossa plena satisfação. Desse modo, em cada eucaristia, em cada celebração comunitária que participamos, nós nos aproximamos ainda mais da Plenitude Eterna, e rezamos: “Ó Deus, que nos alegrais todos os anos com a solenidade da ressurreição do Senhor, concedei-nos, pelas festas que celebramos nesta vida, chegar às eternas alegrias...” (Oração Coleta na Oitava de Páscoa). Como membros dessa assembleia Eucarística vivemos o prelúdio da nossa eterna alegria.

E para aqueles que desejam intensificar a experiência batismal, como que um upgrade, a Igreja nos apresenta um modelo devida inspirado nas primeiras comunidades cristãs. Trata-se de um estilo audacioso de testemunhar a alegria do Cristo Ressuscitado, onde Ele mesmo nos convida, “e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins do mundo” (Atos 1, 8); estamos falando da Vida Religiosa Consagrada. O Papa Francisco, para sublinhar o testemunho evangélico dos religiosos e religiosas, diz: “Onde há Vida Consagrada, há alegria!” (Carta Circular Alegrai-vos). Não se trata somente de uma frase, mas de um diagnóstico da realidade dos que realmente abraçam o caminho do sofrimento redentor de Cristo, como fez a Santíssima Virgem Maria, que viveu sua consagração a Deus de maneira exclusiva e feliz.

E foi essa mesma experiência redentora de Cristo que inspirou Dom Bosco a iniciar esse vasto movimento empenhado em “salvar almas” juvenis, propondo a alegria, como via de santidade. Vejamos o diálogo de Dom Bosco com Domingos Sávio, que lhe questionava o que era preciso para alcançar a santidade:

“Quero te dar uma fórmula da santidade. Esteja bem atento. Primeiro: alegria. Aquilo que perturba e tira a paz não vem do Senhor. Segundo: deveres de estudo e de oração. Atenção na escola, empenho nos estudos e nas orações. Tudo isso não por ambição, para fazer-te notado ou para que te elogiem, mas por amor do Senhor, e para te tornares um verdadeiro homem. Terceiro: fazer o bem aos outros. Ajuda os teus companheiros sempre, mesmo as custas de sacrifícios. Aqui está toda a santidade”.

Caríssimos, celebremos a Páscoa com grande júbilo, pois com ela nós nascemos para uma vida nova, somos resgatados e nos tornamos capazes de participar do banquete eterno. Por isso, a Páscoa é a festa da alegria! Feliz Páscoa!

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