Foi divulgada nesta quinta-feira a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, no dia 1º de setembro. Este Dia inaugura o “Tempo da Criação”, que vai até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis – uma iniciativa ecumênica inspirada pelo Patriarcado de Constantinopla que une os cristãos em torno da necessidade de uma conversão ecológica.
O tema deste ano é “Escuta a voz da criação”. Esta voz, lamenta o Papa na mensagem, se tornou um “grito amargo”, ou melhor, um coro de gritos em decorrência dos maus-tratos humanos: grita a Mãe Terra, gritam as criaturas, gritam os mais pobres e, entre eles, os povos indígenas, e grita a futura geração. Esses clamores provocados pelos nossos excessos consumistas, à mercê de um antropocentrismo despótico, que provocam, por sua vez, as mudanças climáticas.
Diante deste quadro, é preciso limitar o colapso dos ecossistemas e há uma única opção segundo Francisco: arrependimento e mudança dos estilos de vida e dos modelos de consumo e produção. Não só em âmbito individual, mas também comunitário. Esta catástrofe ecológica, afirma o Pontífice merece a mesma atenção que outros desafios globais, como as graves crises sanitárias e os conflitos bélicos.
Um pedido, “em nome de Deus”
Por isso, o Papa cita dois eventos de fundamental importância promovidos pelas Nações Unidas: a COP27 sobre o clima, programada para o mês de novembro no Egito, e a COP15 sobre a biodiversidade, que se realizará em dezembro no Canadá.
Francisco recorda a adesão da Santa Sé ao Acordo de Paris, que prevê limitar o aumento da temperatura a 1,5°C e para reduzir a zero, com a maior urgência possível, as emissões globais dos gases de efeito estufa. A finalidade é caminhar rumo à direção mais respeitadora da criação e do progresso humano integral de todos os povos presentes e futuros, um progresso fundado na responsabilidade, na prudência/precaução, na solidariedade e atenção aos pobres e às gerações futuras.
“Na base de tudo, deve estar a aliança entre o ser humano e o meio ambiente que, para nós fiéis, é espelho do amor criador de Deus.”
Eis então o apelo do Papa: “Repito: Quero pedir, em nome de Deus, às grandes empresas extrativas – mineiras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agro-alimentares – que deixem de destruir florestas, zonas húmidas e montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de intoxicar as pessoas e os alimentos.”
Dívida ecológica
Neste processo de conversão, aponta Francisco, não se pode negligenciar as exigências da justiça, especialmente para com os trabalhadores mais afetados pelo impacto das mudanças climáticas.
Neste sentido, escreve ainda o Papa, “é impossível não reconhecer a existência duma ‘dívida ecológica’ das nações economicamente mais ricas, que poluíram mais nos últimos dois séculos”. Por outro lado, os países menos ricos não estão isentos de suas responsabilidades. “É necessário agirem todos, com decisão. Estamos a chegar a um ponto de ruptura.”
A mensagem conclui-se com um convite de Francisco, para que neste “Tempo da Criação” as cúpulas COP27 e COP15 possam unir a família humana. “Choremos com o grito amargo da criação, escutemo-lo e respondamos com os fatos para que nós e as gerações futuras possamos ainda alegrar-nos com o canto doce de vida e de esperança das criaturas.”
No dia 1º de setembro, celebramos o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação. Esse dia não é apenas um momento de comemoração, mas um convite profundo para refletirmos sobre nossa sagrada responsabilidade em relação a tudo aquilo que o Divino Criador nos confiou. À medida em que essa reflexão nos conduz à contemplação da Criação, somos chamados a enxergar não somente a beleza e a complexidade do mundo, mas também a nossa parte na teia da vida. Esse dia abre o “tempo da criação” que vai até o dia 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis. É um tempo ecumênico. O Papa Francisco enviou sua mensagem para esse Dia de Oração.
“Jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca” (5,24). É com essas palavras do profeta Amós que o Papa Francisco inicia a mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, de 2023. A justiça e a paz são temas centrais neste ano, inspirados pelas palavras do profeta Amós: "Corra a justiça como um rio, e a retidão, como um riacho perene". O Papa Francisco destaca que buscar a justiça é essencial para nós, que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Essa justiça não se restringe apenas às leis, mas engloba a maneira como tratamos a nós mesmos, aos outros e à natureza.
Em sua mensagem, o Papa Francisco ressalta, ainda, a importância da interligação entre a Criação e a Redenção, já apontada pelo Papa Bento XVI. A compreensão da relação intrínseca entre esses dois aspectos é crucial, pois o Redentor é, ao mesmo tempo, o Criador. A nossa capacidade de anunciar Deus em toda a sua grandeza como Criador e Redentor molda o significado da Redenção em nossas vidas.
O conceito de criação vai além do ato inicial de Deus trazer o mundo à existência a partir do nada. Ele abrange o contínuo trabalho misterioso de Deus, que ainda se desenrola, e que é refletido na majestade e na beleza do universo que nos cerca. Esse processo criativo, em constante evolução, é um presente generoso e inesgotável que experimentamos diariamente.
Nos momentos de liturgia e nas nossas orações pessoais, somos convidados a entrar na “grande catedral da criação”. Essa expressão evoca a ideia de que o mundo natural é, por si só, um lugar sagrado, um espaço onde podemos sentir a presença do Grande Artista. Ao refletirmos sobre a maravilha da criação, somos convidados a contemplar o mistério do amor de Deus manifestado em Sua escolha amorosa de criar o mundo.
Nesse contexto, a mensagem enfatiza que nossa conexão com Deus não se limita ao plano espiritual, mas se estende à própria natureza. A Criação é uma manifestação do amor e da presença de Deus, e nossa missão inclui o reconhecimento e a preservação dessa obra divina. Compreender essa profunda união entre Criação e Redenção nos ajuda a valorizar a beleza e a dignidade de todo o universo e a reconhecer a presença constante de Deus em nossas vidas.
Deste modo, nossa missão é de cultivar um cuidado reverente pela criação, de modo que as gerações presentes e futuras possam partilhar dos frutos dessa dádiva divina. Na medida em que lutamos por um ambiente equilibrado e saudável, também expressamos nosso amor pelo próximo e pelo Deus que nos presenteou com essa morada terrestre.
Muitas vezes, erroneamente, atribuímos a Deus a responsabilidade pelas catástrofes que assolam o mundo. No entanto, precisamos reconhecer que tais eventos são, na verdade, em grande parte, resultados das ações humanas. É imperativo que nos empenhemos em zelar pela nossa “casa comum”, ou seja, pelo nosso planeta Terra, um local onde todos têm o direito de viver com dignidade e desfrutar de seus direitos fundamentais, como moradia, alimentação, água e trabalho.
A Encíclica “Laudato Si'”, escrita pelo Papa Francisco, ressalta a conexão intrínseca entre nossa fé e o cuidado da criação. Ela nos recorda que somos chamados a ser guardiões da natureza, a cultivar uma relação respeitosa e responsável com o mundo que nos cerca. Aguardamos com carinho a segunda parte desse tema que o Papa está escrevendo. Para o cristão, a natureza é vista como um dom precioso que Deus nos confiou, e somos chamados a administrar esse dom com sabedoria e gratidão.
Devemos ser diligentes na conservação dos recursos preciosos, como a água e a energia, e evitar o desperdício. Esses bens valiosos devem ser acessíveis a todos os habitantes do mundo. Um dos principais fatores do aquecimento global é o desmatamento, o que exige uma preservação mais atenta de nossas florestas, pois são elas que sustentam a vida, influenciam o clima e purificam o ar.
O cuidado com nosso lar comum deve ser um compromisso universal, já que nossa casa é compartilhada por todos e Deus a criou para abrigar a Humanidade. Ao cuidarmos do nosso meio ambiente, estamos, na verdade, cuidando da criação de Deus. Nossas ações diárias, como descartar lixo impróprio ou contribuir para a poluição, afetam diretamente aquilo que Deus nos confiou. Os sinais dos danos já estão visíveis: rios poluídos e secas generalizadas, todos frutos da ação humana desenfreada.
O Papa Francisco também ressalta a importância de cuidar de nosso próprio bem-estar físico e mental. Assim como preservamos o ambiente, devemos cuidar de nossos corpos, evitando comportamentos prejudiciais e promovendo um estilo de vida saudável. Antes de cuidar do planeta, precisamos cuidar de nós mesmos.
Neste Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, abrindo o tempo da criação, encorajados pela mensagem do Papa Francisco, é oportuno fazer uma avaliação de como estamos nos cuidando e como estamos preservando nosso ambiente. Devemos lembrar que aquilo que não desejamos para nós mesmos não devemos desejar para os outros. Ao construirmos um reino de justiça, paz e respeito mútuo, honramos a criação e preparamos o caminho para um futuro melhor para todos.
Fonte: CNBB