O IRMÃO SALESIANO DOM DE DEUS PARA A CONGREGAÇÃO SALESIANA

1.3 VIVEMOS COM E PARA OS OUTROS – RELIGIOSOS NA FRATERNIDADE

“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12)

Nossa vocação é de natureza comunitária, não somos uma empresa de negócios, mas uma fraternidade. Vivemos entre irmãos, onde cada um coloca seus dons a serviço dos demais. Quem assume um cargo de “superior”, deve revestir-se de maior humildade e serviço, seguindo exatamente o que o apóstolo Paulo nos fala: “O amor tem paciência, não se orgulha, não se irrita, tudo suporta, tudo perdoa...” (Cor.13,4s). Numa comunidade fraterna, a hierarquia de poder é serviço, cada função que assumimos deve ser trabalho e doação aos irmãos. Ao tratar o tema do salesiano irmão na congregação, o Capítulo XIX realça o valor da dimensão de fraternidade: “reafirmando a substancial paridade e igualdade na nossa família entre irmãos eclesiásticos e leigos . Dom Bosco dizia sobre nossas comunidades: “Não há distinção alguma: todos são tratados da mesma maneira, quer sejam artesãos, quer sejam clérigos, quer sejam padres; nós nos consideramos a todos como irmãos” . Como disse sabiamente o CG 25, aspiramos a formar uma comunidade com “um só coração e uma só alma” , testemunhando uma vida fraterna que se torne resposta à sua profunda necessidade de comunicação, proposta de humanização, profecia do Reino, convite a acolher o dom de Deus .

A vida fraterna, como vida de partilha no amor, é sinal eloquente da comunhão eclesial, antes de ser instrumento para uma determinada missão, é espaço teologal, onde se pode experimentar a presença mística do Senhor Ressuscitado (Mt,18,20). Desse modo, a presença de Jesus Ressuscitado só pode ser verificada graças ao amor recíproco entre irmãos da comunidade, amor alimentado na escuta da Palavra e na Eucaristia, no perdão fraterno e sacramental. A comunhão comunitária é sustentada pelo Espírito que nos insere na comunhão da Trindade . A fraternidade é mistério e dom que unificam a comunidade religiosa.

Conforme o Documento Identidade e Missão do religioso irmão na Igreja, a vocação do irmão é parte da resposta que Deus dá ao vazio de fraternidade, que hoje, de forma tão contundente atinge o mundo. Seu sim, deve ser como aquele de Moisés , um sim aos sofrimentos dos pequenos, uma luta constante em favor daqueles colocados à margem de qualquer dignidade. “Ouvi o clamor de meu povo”. Numa comunhão de sofrimentos, o irmão pode ser mediação de libertação entre Deus e os faraós, vivendo o testemunho profético e misericordioso da Igreja em favor dos menores.

O primeiro ministério do irmão na Igreja, é manter viva, na comunidade de batizados, a consciência dos valores fundamentais do Evangelho e a exigência de responder, com a santidade de vida, ao amor de Deus derramado nos corações pelo Espírito Santo (Rm 5,5), as demais atribuições vêm somente acrescentar ( Identidade e Missão, 7). Como podemos ver em vários números da Exortação Apostólica Vita Consecrata (15;21;25;26;27; 42, etc.), o sinal profético do religioso irmão, determina sua orientação de vida: não sendo para si, mas em função da comunidade eclesial. A fraternidade dos religiosos irmãos é um estímulo para toda a Igreja, tornando presente a horizontalidade das relações fraternas, sem almejar lugar de destaque ou hierarquia. “Quanto a vocês, nunca deixem chamar de mestre, pois só um é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos” (Mt 23,8s).

O salesiano irmão, na sua função especifica na Igreja, é um testemunho imediato de aproximação do modo de ser de todo cristão batizado. Conserva em si o elemento primordial de todo povo cristão, a condição de “laós”, tesouro comum à toda pessoa. Se voltássemos às origens da vida religiosa veríamos a sua natureza predominantemente laica. Na profissão, o irmão se conforma a Cristo pobre, casto e obediente à vontade do Pai. Esse dom precioso da vida religiosa, não pode ser esquecido ou subvalorizado diante de outros ministérios também importantes para a Igreja. O irmão leigo não pode ser tido como alguém de segunda categoria ou um padre que não deu certo. Na natureza de sua vocação religiosa, no testemunho de sua vida consagrada, naquela  especificidade que lhe é própria, é onde ele deve ser reconhecido. Desse modo, sua vocação se identificaria mais com o ser do que com o fazer, com a unidade de sua consagração: opção fundamental. Como também não podemos identificar o presbítero somente pelo que ele faz .

Pertencer à vida religiosa, em determinadas épocas parecia privilégio, viver a maior radicalidade do Evangelho, primeiro é obrigação de todo cristão (como falou Papa Francisco na Carta às pessoas consagradas) na verdade deve representar maior responsabilidade diante do Reino, diante do profetismo. Não cabe mais grupos privilegiados na Igreja de Cristo: todo cristão, pelo batismo e na sua vocação especifica, é chamando à santidade. O irmão salesiano deve, no que é especifico de sua vocação, testemunhar junto dos demais religiosos ou leigos a esperança do Evangelho. A sua atitude profética reforça a sua atitude de consagrado, testemunhando na vivência dos sacramentos e da fraternidade, uma Igreja que é comunhão, portadora da boa nova de Jesus Ressuscitado. Seu testemunho é um estímulo concreto ao povo de Deus, do qual ele participa como irmão, sendo passagem direta entre o mundo secular e o mundo religioso. Sua atitude pastoral, na condição de religioso leigo e, conforme o carisma salesiano, busca responder aos desafios da secularização, atuando nas ciências, na cultura, nos espaços de trabalhos, etc. O irmão salesiano, mais próximo do jovem na sua condição de leigo consagrado, tem um amplo campo de diálogo e de partilha de vida. Sua ação, sem grandes barreiras, pode ser frutuosa manifestação do amor de Deus aos jovens: ouvindo-os, assistindo-os e pregando uma palavra de esperança e otimismo.

A vida fraterna nos assemelha aos discípulos unidos em torno de Jesus. A comunidade conforme desejou Dom Bosco, constitui verdadeira família, onde cada salesiano, (presbítero ou salesiano irmão) em clima de fraternidade, coloca sua vida a serviço dos demais irmãos, irradiando essa fraternidade aos nossos jovens destinatários.  O artigo 45 das Constituições nos lembra a exigência fundamental do viver e trabalhar juntos como caminho de realizarmos nossa vocação. Ressalta o espirito de família, a partilha (C 45). A comunidade é o lugar do amor sincero, da pratica da hospitalidade e do entendimento ( Rm 12,9.10.13.16), cada um conforme sua vocação é convidado a caminhar na santidade imitando a estatura do Mestre: Jesus Cristo. A comunidade salesiana não tem um fim em si mesma, não pode ser retratada em  um casulo fechado, ela vive e testemunha a fraternidade cristã, sendo sinal na Igreja do amor de Deus aos jovens. Nossa fraternidade não é fruto de civilidade e filantropia, ela revela a fraternidade de Cristo, como aquele que nos amou por primeiro, ao ponto de dar a própria vida em prol dos seus.

O salesiano Irmão tem sua forma própria de contribuir com a complementariedade da vida fraterna. Oferece seus dons e riquezas, na condição de leigo consagrado, a serviço dos coirmãos e da missão junto dos jovens. A vida comunitária não é para nós um penduricalho que podemos abrir mão a qualquer momento, mas é característica primordial da nossa maneira de ser na Igreja. Juntos com Dom Bosco, exemplo carismático de fraternidade e o primeiro a fomentar em nós o espírito de família, seguimos a Jesus Cristo. Sabemos que a comunidade ainda não é o paraíso, mas devemos lutar para instalá-la, a cada dia, mais perto dele. Por isso o irmão empenha-se em construir a comunidade em que vive, quer-lhe bem, mesmo se imperfeita, pois nela está a presença viva de Cristo Jesus (C 52).

O Papa Francisco na Carta Apostólica para as pessoas consagradas, insiste na vivência da comunhão fraterna, criando um lugar alegre e saudável, onde não sobra espaço para bisbilhotices, invejas, ciúmes, antagonismos, lugar para viver o respeito pelas fragilidades do irmão e o amparo fraterno e da caridade . É na comunidade que haurimos forças para vivermos nosso testemunho cristão, para cumprirmos fielmente os votos e vertermos tudo isso em favor da Missão. O amor gratuito a todos, a obediência e a pobreza evangélica nos colocam em total abertura e plenamente livres para o seguimento de Jesus Cristo.  A caridade fraterna, a missão apostólica e a pratica dos conselhos evangélicos são vínculos que plasmam a nossa unidade e consolidam continuamente nossa comunhão .

A Eucaristia é o ápice da fraternidade entre Deus e homens, nela testemunhamos o sentido de nossa consagração e não nos vemos sozinhos: Jesus caminha conosco, nos ampara nas dificuldades, nos alegra nos momentos tristes e se revela a esperança conclusiva de tudo que fazemos ou somos. Inspirados na misericórdia do Pai, a comunidade é lugar de perdão, de correção fraterna e de festa. Vivemos uma alegria contagiante que transborda como testemunho para todo jovem que chega até nós. O entusiasmo salesiano deve fazer da comunidade uma antecipação da Páscoa perene, vivida cotidianamente como confirmação positiva de nosso sim.

Por fim, diante de um mundo tão egoísta, o testemunho de fraternidade do irmão salesiano, irradia para toda sociedade como exemplo a ser imitado. A fraternidade comunitária, onde cada um se dispõe na solidariedade, carregando o fardo do outro (Gl 6,2), partilhando os sofrimentos e as alegrias no espírito de caridade evangélica, manifestando nesse modelo de vida o advento de Cristo Jesus (Jo 13,35;17,21). Não há outro sustento para a vida fraterna senão o Espírito. Ele é quem fortifica a vida espiritual de cada irmão e dinamiza a perfeita união com o Cristo ressuscitado. Ele é quem proporciona a alegria da renúncia a serviço do Reino e nos capacita para vivermos a cada dia o nosso sim profético e missionário.

[1]CG XIX. Atti Del Capítolo Generale XIX. Roma, 1966. O Salesiano Coadjutor –introdução, p.65.
[2]MB 12,152.
[3]CG 25. A Comunidade Salesiana hoje, 2002, n.1.
[4]CG 25, n.7
[5]Vita Consecrata, 42.
[6]Documento Identidade e Missão do Religioso irmão na Igreja. n. 6.
[7]Na congregação salesiana, parece ter havido momentos, inclusive em temposatuais, que associamos a vocação do irmão com aquilo que ele não é, muitasvezes também com aquilo que ele faz. Isso desmancha em figuras pouco nítidas averdadeira natureza da vocação do salesiano irmão. Outro aspecto interessante,seriamos desvincular completamente a natureza de tal vocação do mundo dopresbítero. São vocações especificas e, no que tem de especifico, possui valorequivalente, não cabendo comparação entre uma e outra, sobretudo quando fazemoscomparações para desqualificar uma delas.
[8]Papa Francisco. Carta Apostólica àsPessoas consagradas para proclamação do Ano da Vida Consagrada. p. 6.
[9]Dicastério  para a formação. O salesianocoadjutor, p. 71.

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