Embora muitos identifiquem nesse avanço tecnológico novas oportunidades de aprendizado e maior facilidade de acesso à informação, como aspectos positivos, outros veem com preocupação e assombramento esse novo fenômeno.
O mundo está vivenciando neste tempo uma grande mudança em relação aos avanços da inteligência artificial (IA), que passa a fazer parte do dia a dia das pessoas. Se antes a tecnologia proporcionava um acesso rápido às informações por meio dos mecanismos de buscas que, como uma ágil biblioteca, traziam informações atualizadas sobre o tema buscado; agora a inteligência artificial se apresenta com características cada vez mais humanoides.
Ao abrir o ChatGPT, sensação do momento, e escrever “bom dia”, a inteligência artificial responde de forma muito polida: “bom dia, como posso ajudar você hoje?”. E se você, ao final da conversa, escreve “obrigada”, a IA responde: “De nada! Fico à disposição caso tenha outras dúvidas ou questões que eu possa ajudar”.
Já não é mais necessário recorrer a diversos sites para fazer um texto ou elaborar uma explicação sobre determinado tema, pois a inteligência artificial já fornece uma síntese da temática solicitada, com exemplos e com uma linguagem cada vez mais próxima da coloquial, de modo que é muito difícil saber se o texto foi criado por uma pessoa ou pelos algoritmos da IA. Tudo isso tem provocado grandes discussões no meio acadêmico e em diferentes espaços que sofrem o impacto dessas tecnologias.
A tecnologia nunca é neutra
Embora muitos identifiquem nesse avanço tecnológico novas oportunidades de aprendizado e maior facilidade de acesso à informação, como aspectos positivos, outros veem com preocupação e assombramento esse novo fenômeno. Em vista disso, no dia 31 de março deste ano, o governo italiano suspendeu o uso do ChatGPT, após a suspeita de divulgação de informações pessoais sensíveis dos usuários da sua versão premium. Também no dia 29 de março, centenas de cientistas e especialistas de todo o mundo assinaram uma carta pública com o apelo para que houvesse uma pausa de seis meses nas pesquisas sobre inteligência artificial, alegando grandes riscos para a humanidade.
Essa é uma responsabilidade educativa e, também, uma importante contribuição que pode ser dada às comunidades nas quais atuam os salesianos e salesianas do Brasil e do mundo.
A tecnologia é um bem precioso produzido pela humanidade e pode ser um fator determinante para solucionar muitos problemas do mundo atual. Porém, é necessário um grande senso crítico para perceber que a tecnologia nunca é neutra. Ela serve aos interesses daqueles que, de alguma forma, se beneficiarão delas.
A corrida nas pesquisas para se chegar aos melhores resultados nem sempre leva em consideração os riscos que essas pesquisas apresentam, e que vão além de uma forma mais imediata, como fazer uma redação perfeita para o estudante do Ensino Médio. É necessário refletir também em relação a questões mais complexas e futuras, como por exemplo: a redução no número de empregos, a manipulação de informações, a falta de controle sobre sistemas criados para matar e a falta de regulamentação baseada em códigos de ética, transparentes e compreensíveis para os usuários.
IA no espaço educativo
Do ponto de vista educativo, é muito complexo compreender os impactos sobre as crianças, os adolescentes e os jovens que são expostos por horas e horas a essas tecnologias. Até que ponto essa população tem condições de perceber a influência dessas tecnologias baseadas em sistemas de algoritmos e robôs superinteligentes na formação de suas opiniões, de suas formas de ver o mundo, as relações e a vida em si?
Considerando ainda o contexto de que essa geração passou por dois anos de pandemia, em que o mundo digital tornou-se o principal espaço de socialização e interação, com graves problemas de isolamento e um forte impacto sobre a saúde emocional, como essa geração será afetada pelos novos sistemas de inteligência artificial?
Todas as questões que emergem dessa realidade precisam ser trazidas para o espaço educativo, não no sentido de causar pânico ou demonizar as tecnologias, mas no sentido de ter um posicionamento crítico e reflexivo, para além de um simples encantamento ingênuo diante das novidades que chegam. Os espaços salesianos, enquanto ecossistemas educomunicativos, precisam se preparar para não apenas incorporar essas tecnologias, mas, principalmente, para atuar de forma preventiva, considerando os princípios universais dos direitos humanos, os valores evangélicos e os princípios éticos que devem fundamentar a nossa prática cotidiana.
Conhecer essas novas tecnologias, ler e aprofundar as discussões em pauta, dialogar com os estudantes, com as famílias e todos os membros das comunidades educativas é um passo importante para que, em meio às incertezas do momento, se possa ao menos ir construindo um pensamento crítico sobre esses temas fundamentais. Essa é uma responsabilidade educativa e, também, uma importante contribuição que pode ser dada às comunidades nas quais atuam os salesianos e salesianas do Brasil e do mundo.