Maria, como esteve conosco em cada momento de nossas vidas, também estará conosco na hora da nossa morte, como lhe pedimos na final da Ave-Maria.
Naqueles momentos, Lhe pedimos que nos tome pela mão e nos ajude a levantar-nos para correr na direção de Jesus, o Senhor de nossas vidas.
Comentário do Reitor Mor
“Agora e na hora de nossa morte”: esta frase é de grande impacto emotivo. Especialmente quando - ao entardecer - o Povo de Deus reza a Ave Maria com o terço nas mãos, sentado nos bancos de uma igreja.
A suave monótona cadência da prece esconde em si uma infinita variedade de intraduzíveis sensações, que parecem lançar a alma por entre o tempo e a eternidade; ou, a retornar a um passado distante, repleno de recordações.
Enquanto suas palavras se repetem, a mente se replena de doces imagens, sobretudo daquela “outra mãe” que, junto ao fogo, no inverno, ou sob as estrelas, no verão,
rezava, terço na mão: «Santa Maria, Mãe de Deus...».
A oração, aparentemente tão simples, parece condensar em si todo o mistério da vida, porque nos permite dirigir-nos Àquela que é ‘a Mãe de Deus’ e ao mesmo tempo ‘Mãe nossa’.
Nada mais pedimos a Nossa Senhora: só que reze por nós, pecadores.
Entretanto, isto não significa que o pedido seja trivial. Pelo contrário: ele representa a essência de tudo o que podemos desejar. E assim, por 50 vezes, repetimos a mesma comovente súplica: “Agora e na hora de nossa morte”.
Mas por que a Ave-Maria reduz tão drasticamente a oração a um único pedido? Há pelo menos duas razões.
A primeira, porque Maria é uma especialista para a hora da morte: experimentou, em primeira mão, a paixão e a morte de seu Filho, evento ápice da História da Salvação. Nessa hora, Jesus confiou a Ela os discípulos representados por João, porque os considera filhos.
Dessa hora em diante, tornou-se Maria a guardiã de nosso último instante de vida, fazendo-se presente àquele momento em que toda pessoa se encontra com seu destino eterno.
A segunda razão reside no fato que a hora da morte é uma passagem difícil e... temida, porque carregada de incógnitas. É como atravessar uma ponte por sobre o vórtice de um rio em fúria. Este passo consterna, porque é o único que não se pode planejar. Eis por que a oração a Nossa Senhora se torna tão realista!
História
O homem leve como pluma
Um dia, o Anjo da Morte bateu à porta de um homem.
“Venha, venha! Entre! – disse o homem – . Estava esperando!”.
“Não vim para papear – disse o Anjo – , mas para levar sua vida”.
“Ah, ok! E o que mais poderia levar?”
“Não sei... É que todos, quando chego, gostariam que eu levasse qualquer coisa, menos a... vida. E se soubesse o que me propõem...!”.
“Eu não! Não tenho mesmo nada pra lhe oferecer: as alegrias que me deram, as gozei; diverti-me, mas sem fazer da diversão o fim da minha vida; as preocupações, entreguei-as ao vento; problemas, dúvidas,
ansiedades..., tudo confiei à Providência. Dos bens terrenos só usei novena o necessário: renunciei ao supérfluo. Doei meu sorriso a quantos m’o
pediram e o meu coração a quantos eu amei e me amaram; a minha alma, confiei-a a Deus...
Leve, pois, minha vida porque não tenho outra coisa pra lhe dar!”.
O Anjo da Morte tomou o homem em seus braços que o achou mais leve que uma pluma. Para o homem, a apreensão do Anjo lhe pareceu um abraço aconchegante.
E o bom Deus escancarou as portas do Céu: estava para entrar um santo.
Entrega a Maria
Santa Maria, mulher da última hora, quando chegar para nós o grande pôr-do-sol,
põe-te do nosso lado para que possamos enfrentar a noite que vier.
Livra-nos da consternação de abismo.
Infunde-nos - n’alma fatigada - a doçura do sono.
Que a morte, mesmo assim, nos encontre vivos!
Santa Maria, mulher da hora derradeira,
Te rogamos: quando, também para nós, chegar o momento
de entregar-nos ao Pai, empresta-nos tua face
como último travesseiro.
O calor da tua face, nesse último momento,
ó Santa Maria, mulher da última hora,
prepare-nos para a grande viagem.
E dá-nos a tua proteção.