Maio, mês que toca nosso coração e por vários motivos: é o mês em que celebramos o Dia das Mães, e entre todas elas, aquela que é a mãe de Deus e nossa Mãe, a Virgem Maria, a quem amamos e reverenciamos em todo o Brasil, com o título de Nossa Senhora Aparecida, nossa padroeira. Contudo, temos também Nossa Senhora de Fátima que marca o mês de maio.

Celebrar as mães é celebrar a vida, é celebrar sua presença amorosa no lar, presença que acolhe, cuida, educa e ajuda a crescer. No Dia das Mães, queremos cumprimentar e agradecer a todas as mulheres deste imenso Brasil que assumem e vivem com dedicação e responsabilidade sua vocação materna, que se realiza de diversas maneiras, seja no cuidado dos próprios filhos, seja na acolhida e adoção de outros, seja na vida consagrada, que, ao renunciar a maternidade biológica, pelo Reino de Deus, não abdica da maternidade espiritual, mas a realiza ao entregar toda a vida ao serviço de tantas crianças.

Maria é introduzida no mistério de Cristo definitivamente mediante aquele acontecimento que foi a Anunciação do Anjo. Esta deu-se em Nazaré, em circunstâncias bem precisas da história de Israel, o povo que foi o primeiro destinatário das promessas de Deus. O mensageiro divino diz à Virgem: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28). Maria “perturbou-se e interrogava-se a si própria sobre o que significaria aquela saudação” (Lc 1, 29): que sentido teriam todas aquelas palavras extraordinárias, em particular, a expressão “cheia de graça” (...).

O motivo desta dupla saudação, portanto, está no fato de se ter manifestado na alma desta “filha de Sião”, em certo sentido, toda a “magnificência da graça”, daquela graça com que “o Pai … nos tornou agradáveis em seu amado Filho”. O mensageiro, efetivamente, saúda Maria como “cheia de graça”; e chama-lhe assim, como se este fosse o seu verdadeiro nome. Não chama a sua interlocutora com o nome que lhe é próprio segundo o registo terreno: Maria; mas sim com este nome novo: “cheia de graça”.

A veneração prestada à Virgem Maria, por parte dos cristãos, remonta aos primeiros séculos da era cristã. A tradição escrita e oral desta época nos revela o quanto Maria foi venerada na Igreja primitiva. O culto a Maria, desde os primeiros séculos da Igreja, foi uma força motora que impulsionou os cristãos na vivência da fé. Maria é uma figura que caminha com o povo e sente seus sofrimentos, e estes encontram o alívio das suas dores na intercessão materna dela ao seu Filho Jesus.  Na figura desta ilustre mulher, muitos encontram a figura da mãe que cuida dos filhos, da mulher forte que sempre está de pé diante das cruzes do dia-a-dia, da rainha que luta e vence o mal, da virgem que é exemplo de pureza, da dolorosa que chora o sofrimento e a morte de seu Filho, a mulher do silêncio que mesmo diante da dor guardava as promessas de Deus no coração.

Sabemos que com o passar dos anos seu culto foi sofrendo modificações dentro das classes sociais europeias. Ela protege e ampara os pobres e marginalizados (órfãos, doentes, viúvas); ela é nomeada patrona das cidades e invocada quando ocorrem calamidades como guerra, pestes, cataclismas; e ela está presente na corte é a “Rainha Mãe” do Filho de Deus, que tem o papel de interceder pelos “súditos” do reino.

Nos dois milênios de história da Igreja Católica, vemos que a relação do povo com a Virgem Maria, foi sempre pautada sobre esses pressupostos, e ainda hoje testemunhamos a vitalidade de sua presença no coração dos cristãos católicos, como o caso da Virgem do Pilar, tão amada e venerada na Espanha, em Ouro Preto e em outras cidades brasileiras.

O nome de Maria no Novo Testamento 

Nos 27 livros do Novo Testamento, encontramos muitas alusões a Maria. Começando pela literatura Paulina, perpassando pelos quatro evangelistas até o Apocalipse encontramos de modo direto ou indireto, alusões a figura Mariana. Embora alguns escritores como Paulo, não a citem claramente nos seus escritos possuem evidências, vestígios de Maria.

Maria no evangelho de Marcos

No evangelho de Marcos, Maria é mencionada cinco vezes (Mc 3,31-35; 6,1-6; 15,40.47; 16,1). Dessas cinco, apenas duas (Mc 3,31-35; 6,1-6) são claramente Marianas as outras três (15,40.47; 16,1) podem ser interpretadas como referências a Mãe de Jesus.

Maria no evangelho de Mateus

Estudiosos de Mariologia e de Sagradas Escrituras mostram que Maria aparece, no evangelho, de Mateus nas narrativas da infância (Mt 1-2) e em momentos do ministério público de Jesus (Mt 12, 46-50; 13,53-58).

A primeira aparição de Maria no universo mateano é em Mt 1,18. Maria aparece na descrição da genealogia de Jesus no versículo 16 como a esposa de José filho de Jacó (v.16) que gerou Jesus. Percebe-se aqui, que não foi José que gerou Jesus, mas sim Maria nesta genealogia são citadas 5 mulheres, sendo 4 estrangeiras e 2 prostitutas, muitos podem ver miséria e desgraça (Tamar v.3; Raab v.5; Rute v.5b Betsabéia v.6b), mas Deus pode suscitar salvação mesmo da 3 miséria humana. Maria tem dificuldades de aceitação pela sua condição matrimonial, pela sociedade.

Maria no evangelho de Lucas

Dentre os três Evangelhos, o de Lucas é o que mais apresenta citações acerca de Maria.

Dos 150 versículos no NT que tratam de Maria, 90 estão no evangelho de Lucas (conforme o Dicionário de Mariologia). O Evangelista Lucas apresenta Maria nas seguintes passagens (Lc 1,26-38, anunciação; 1, 39-40, visitação. Magnificat, 1, 46-56, Nascimento de Jesus, 2, 1-7; visita dos pastores, 2, 8-20; apresentação de Jesus, 2, 25-37; menino Jesus no templo, 2,39-52 ); e na vida pública de Seu filho (8,19-21, família de Jesus; e indiretamente em Lc 11, 27-28; At 1, 14.).

Maria no evangelho de João

O Evangelho de João apresenta somente duas citações diretas a Maria. A Primeira nas bodas de Caná (Jo 2, 1-12) e a segunda aos pés da Cruz (Jo 19,25-27). Há ainda algumas alusões à mãe de Jesus (Jo 6,42).

Penso que estas citações poderão te ajudar a entender a presença da figura de Maria no Novo Testamento. Poderíamos ir mais adiante com a literatura Paulina ou o Apocalipse, mas deixemos para outra ocasião.

A presença constante de Maria na cultura brasileira foi reconhecida pelo Papa João Paulo II, quando visitou o santuário de Aparecida em 1980 e declarou que “o amor e a devoção a Maria são um dos traços característicos da religiosidade do povo brasileiro” ( Pronunciamentos do papa no Brasil, Petrópolis: Vozes, 1980, p. 129.)

Maria hoje aparece na devoção mariana que faz parte da matriz cultural tradicional do catolicismo brasileiro como uma mensagem poderosa. Esta mensagem pode ser percebida pelo Magnificat, o cântico de Maria (Lc 1,46- 55), carregado de esperança e recitado constantemente pelo povo em inúmeros hinos e cânticos populares. Ali ela aparece como mulher do povo, companheira e mãe libertadora diante das aflições da vida. Para nosso povo, “Maria é, ao lado do seu Filho, a imagem mais perfeita da liberdade e da libertação da humanidade e do cosmos”. (Congregação para a Doutrina da Fé Libertatis Conscientia, Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação, n. 97.)

Na peça teatral e posteriormente transformada em filme, “O Auto da Compadecida”, de Dias Gomes, aparece nitidamente a visão de Maria na devoção popular brasileira: “Na dogmática popular, o centro é ocupado por Maria.

É evidente que Maria não é o centro, mas ela faz parte deste centro e seu papel é relevante na história da Salvação: “Sem Maria, desencarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, em racionalismo espiritualista”. ( Doc. de Puebla n. 301.)

No âmbito do catolicismo brasileiro, vai crescendo a necessidade de ver em Maria o modelo da discípula fiel, que nos convida a imitá-la. Isto significa um aprimoramento da devoção mariana em nosso meio. “Maria é a grande missionário, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários... trouxe o Evangelho à nossa América. No acontecimento de Guadalupe, presença luminosa de Maria, presidiu junto com o humilde Juan Diego, o Pentecostes que nos abriu os dons do Espírito” (Doc. Aparecida n 269-270)

Os bispos da América Latina reunidos em Aparecida vão afirmar que não se pode desvalorizar a espiritualidade popular ou considerá-la como modo secundário da vida cristã, porque seria esquecer o primado da ação do Espírito Santo e a iniciativa gratuita do amor de Deus. Esta afirmação embasa outra referente a Maria que a propósito serve muito bem para encerrar esta reflexão: “Com sua religiosidade característica se agarram no imenso amor que Deus tem por eles e que lhes recorda permanentemente a própria dignidade. Também encontram a ternura e o amor de Deus no rosto de Maria. Nela vêem refletida a mensagem essencial do Evangelho”.  (Doc. Aparecida n 266-265)

Deus Pai, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, derrame suas bênçãos sobre todas as mães do nosso Brasil.

Que Nossa Senhora abençoe todos os lares do Brasil, para que sejam uma pequena igreja doméstica, onde se vive o amor, a fé, a união e a paz.

Maria: Modelo de educadora na sabedoria e no amor!

Rogai, por nós!

Maio de 2022 - Salesiano de Dom Bosco de Belo Horizonte.

Fontes:

Carta encíclica Redemptoris mater do sumo pontífice João Paulo II Sobre a bem-aventurada virgem Maria na vida da igreja que está a caminho. 1987.

Pronunciamentos do papa no Brasil, Petrópolis: Vozes, 1980, p. 129.

Congregação para a Doutrina da Fé, Libertatis Conscientia, Instrução sobre a liberdade cristã e a libertação, n. 97.

CODINA V. Credo oficial e credo popular. A propósito da centralidade de Mari na fé popular, in O credo dos pobres,Paulinas, S. Paulo, 1997, p 37. 

Doc. de Puebla (1979) /  Doc. Aparecida (2007)

Esse artigo foi elaborado pelo Edilson Agreson da Silva, SDB

Receba nossa Newsletter

Não enviamos spam. Descadastre-se a qualquer momento.