O itinerário histórico-espiritual de Maria Domingas Mazzarello foi breve, 44 anos, realizado no contexto de um ambiente rural, numa vida simples vivida em Mornese, pequeno lugarejo da Itália. Nasceu e se formou no seio de uma família patriarcal que encontra o seu sustento e sobrevivência no cultivo de vinhedos. O trabalho e a profunda piedade cristã caracterizaram a sua vida familiar. Uma formação moral marcada por uma natureza sincera e permeada pelos valores, relações de afetividade positiva e comunicativa. Na família, Madre Mazzarello aprendeu o valor do trabalho, o sentido de Deus, o empenho na vida cristã e na oração.  Além do rico ambiente familiar, encontrará em outras pessoas que realizaram uma mediação fundamental para a sua formação em todos os sentidos.

Na adolescência e juventude participou ativamente no grupo de Jovens das Filhas de Maria Imaculada. Foi uma experiência muito importante e que influenciou toda a sua vida em relação à construção do seu projeto de vida e dos referenciais significativos que orientou muito das suas escolhas e da sua formação. O grupo das Filhas da Imaculada teve a oportunidade de estar em contato com os contributos da formação oferecida não somente pelo Padre Pestarino, mas também por Padre Giuseppe Frassinetti, sacerdote de Genova, que, como amigo de Pestarino. esteve presente acompanhando a formação do grupo das Filhas de Maria Imaculada. Ambos possuíam uma formação teológica e espiritual profunda. Naturalmente a presença dessas duas figuras no processo de formação espiritual e humana de Mazzarello marcou e influenciou significativamente o caminho formativo.

Com isso, podemos observar que Maria Domingas Mazzarello formou em si valores e referenciais significativos que orientaram o seu projeto de vida e a sua prática como educadora. O clima de intensa vida espiritual, de forte contemplação de Deus e espiritualidade Mariana, a participação ativa no grupo das Filhas de Maria Imaculada possibilitou que Madre Mazzarello cultivasse motivações profundas para a consagração de sua própria vida a Deus. Na verdade, grande parte de sua vida Madre Mazzarello viveu como leiga consagrada, segundo as orientações espirituais do grupo das Filhas de Maria Imaculada.

Madre Mazzarello era uma jovem forte, cheia de vitalidade que de repente se encontra fragilizada, perde as suas forças físicas, o que a deixa impossibilitada de dar continuidade aos trabalhos que realizava no campo.  Porém, o sofrimento, a crise, o amadurecimento espiritual, nesta fase da vida em que se encontrava, permitiu alargar os horizontes da sua existência, da sua missão. Após a superação da enfermidade inicia o caminho em direção a uma intuição educativa, que muda a sua vida de direção. No ano de 1864, aparece a figura de Dom Bosco, em sua vida, que como sacerdote, educador e fundador da congregação salesiana, em Turim, busca realizar as intuições pessoais e a solicitação vinda da Igreja para realizar a fundação de uma congregação feminina que se dedicasse ao bem das jovens. Padre Pestarino apresenta para Dom Bosco o grupo das Filhas da Imaculada, e certamente neste encontro Dom Bosco intuiu os dons naturais de Maria Domingas Mazzarello e do grupo da Imaculada verso a uma possibilidade de efetivação do projeto que deveria empreender em relação à fundação da Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora.

Trilhando os caminhos de Mornese, Madre Mazzarello compartilha com a amiga Petronilla a sua visão em relação ao futuro e aos projetos que Deus inspira no seu coração. Sente-se inspirada a realizar uma missão educativa para as meninas. Essa inspiração nasce de uma voz interior que a interpela: “A ti as confio”. A inspiração divina nasce a partir da visão de um futuro em meio as jovens.  Essa voz interior: “A ti as confio” representa a inspiração de viver uma vocação como educadora e da missão de cuidar das pessoas nas suas diversas dimensões humanas, espirituais, sociais e culturais. A pessoa toda é confiada à sua missão de cuidar e orientar para a vida. A origem da missão educativa das Filhas de Maria Auxiliadora nasce de uma perspectiva plenamente antropológica, a pessoa humana nos é confiada e a nossa atenção se desdobra para o todo da vida humana.

O encontro com Dom Bosco permitiu um caminho de aproximação de realização de um grande projeto de comunhão nas intenções de concretização de um carisma educativo. Madre Mazzarello se empenha em colaborar efetivamente com Dom Bosco na missão de fundação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora tornando-se a co-fundadora do projeto idealizado por Dom Bosco.

Madre Mazzarello Educadora

A sua tarefa como primeira superior geral do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, e depois reconhecida como co-fundadora, será a de trabalhar insistentemente em primeiro lugar no sentido de construir a chama viva do carisma educativo e de formar o Instituto, ou seja, as primeiras Filhas de Maria Auxiliadora a partir do carisma e do projeto salesiano de São João Bosco. É neste contexto que Maria Domingas Mazzarello desempenha e faz crescer o seu ideal como educadora. Embora o arco da sua existência e vivência como Filha de Maria Auxiliadora tenha sido pequeno, Madre Mazzarello nos transmite uma experiência sólida e firme no caminho que realiza como educadora.

A opção pela educação das jovens nasce no contexto das vivências do grupo das Filhas da Imaculada, e na intuição da possibilidade de oferecer para as jovens um caminho formativo e educativo a partir da experiência em um laboratório de costura. A partir dessa experiência os caminhos se abriram para muitas possibilidades humanas e espirituais, mas também para a projeção de um projeto social que visava dar atenção e cuidado as jovens. O projeto de Maria Domingas Mazzarello não foi somente uma ação simples de uma costureira que possui a intenção de ensinar e fazer a oficina de costura, Maria Domingas procura também oferecer para as jovens a proposta de um caminho formativo como observamos nas suas pequenas ações e nas relações que estabelece com as jovens na casa da Imaculada.

Maria Mazzarello se apresenta como a primeira educadora da nascente família religiosa, é educadora da primeira comunidade e desenvolve uma forte maternidade espiritual e de estímulo ao crescimento humano e espiritual. A delicadeza de uma verdadeira pedagoga que soube muito bem encaminhar as pessoas pelas vias do caminho espiritual e de contribuir para que se inserissem no Mistério de Deus. Neste processo de acompanhamento, Madre Mazzarello recebeu de Deus o dom do discernimento dos espíritos. Madre Mazzarello via a pessoa na sua profundidade de valores, potencialidades, além dos limites humanos. Não se intimidava de estimular a pessoa ao crescimento, ao caminho interior que deveria realizar no conhecimento de si mesma, no amadurecimento humano e espiritual.

A sua capacidade de orientar e acompanhar a pessoa foram sendo amadurecidas no tempo e nos espaços no qual desenvolve a sua missão.  É a partir dessa percepção que Mazzarello constrói o seu perfil de educadora salesiana, e que se torna modelo de educadora e pedagoga salesiana vivendo a proposta do sistema educativo salesiano, conforme as orientações oferecidas por Dom Bosco, mas de acordo com o estilo feminino. Madre Mazzarello vive o sistema Preventivo no estilo feminino, ou seja, assume os valores da pedagogia salesiana: alegria, amor demonstrado, familiaridade, no estilo feminino que traz em si especialmente as características da dialogicidade, da reciprocidade, da relação e da amorosidade. Porém, orientada por uma firmeza no acompanhar a pessoa nos processos educativos e formativos.

Estabelecia uma relação de proximidade e de diálogo aberto com as educandas, a partir de uma relação educativa que parte das vivências cotidianas:

[…] Vão, vêm parece que em nada se envolvem; entretanto, seu nome é repetido por todos, porque todos delas recebem um conselho, um favor, uma palavra de estímulo e simpatia. A própria Maria, antes tão reservada, sabe aproximar-se agora desta ou daquela com naturalidade; acompanha-a a igreja […] E, coisa digna de nota, Maria não procurava as melhores, como fazia antigamente: suas preferências são agora para as mais travessas. Mas, as travessas em pouco tempo se lhe afeiçoam, são impelidas, mau grado seu, a imitá-la. (Cronistória I, p. 66)

As relações cotidianas são espaços onde se procura orientar a pessoa a tocar os aspectos da sua vida interior, do seu temperamento que precisa ser transformado ou reorientado para um crescimento.

“No retalho de tempo, a madre se coloca à disposição de todas que desejassem abrir a ela seu coração. Revela sempre grande afeição, prudência e zelo pela glória do Senhor, pela perfeição religiosa das almas a ela confiadas e pela salvação da juventude. Não revela nenhum ar de superioridade e conservando sua habitual atitude de sentar-se num banquinho na sala de costura ou sobre os degraus de uma escada, escuta, anima, incentiva para o bem, ao maior bem as almas generosas e as incertas e débeis. Para cada uma tem a palavra mais precisa: “Este defeito que lhe dá tanto trabalho e lhe causa tanta dor, tenho-o também eu e me faz suar” Mas, encorajemo-nos, procuremos combate-lo sem misericórdia”. (Cronistória II, p. 264-265)

As atitudes de Maria Domingas Mazzarello como educadora demonstram que sua prática educativa parte da realidade da vida, da realidade humana da pessoa. O seu método é extremamente voltado para um caminho processual, atento à experiência da pessoa e a compreensão daquilo que faz parte do seu mundo interior. A dialogicidade é o caminho para se chegar a tocar a pessoa na sua interioridade, o diálogo é o caminho que colabora para que a pessoa possa pensar e refletir sobre a sua vida, e em seguida fazer as escolhas que a permitem amadurecer e dar os passos para o amadurecimento e crescimento humano e espiritual. A relação educativa inspirada na amorevolezza, no amor demonstrado favorece a relação como lugar de encontro e de crescimento humano.

Em 2022 a Família Salesiana celebra 150º aniversário da fundação do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (1872-2022) as festividades prevem um Tríduo de preparação para a festa , “um coração grande e generoso”.

Fonte: Salesianas - Ir. Silvana Soares

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