“Revolucionar o mundo com a bondade, falando com o coração”, é o sonho que o Papa Francisco alimenta para a Humanidade por meio de Sua mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações, que ocorre neste Domingo da Ascensão, 21 de maio de 2023. “Falar com o coração. Segundo a verdade na caridade”, este é o melhor antídoto para curar os males da Sociedade atual.
O Papa Francisco oferece um plano de ação muito concreto: “Comunicar com o coração, na verdade e na caridade”. Quando ouvimos e falamos de coração para coração, a comunicação se torna positiva e sadia. A solução se encontra: brota do coração. O Papa Francisco cita as palavras de Bento XVI: “O programa de cada cristão é um coração que vê onde o amor é necessário e age oportunamente”. Falar com o coração, portanto, é visto como um projeto de vida para cada cristão.
O simbolismo do coração
O coração é uma força universalmente reconhecida e é, atualmente, o símbolo mais popular do mundo. “As coisas mais belas do mundo não podem ser vistas nem tocadas, devem ser sentidas com o coração”, disse a famosa escritora norte-americana Helen Keller. É, talvez, a melhor e mais profunda expressão do amor humano, a fonte da qual todo o bem surge e reside. Obviamente, se todos sabemos que o coração biológico é o órgão mais vital e delicado do corpo humano, o coração espiritual é o centro da verdadeira humanidade, a fonte de todos os sentimentos e emoções humanas e das faculdades intelectuais e espirituais. É interessante notar como o Papa Francisco usa a metáfora do coração para afirmar que é uma ferramenta poderosa com que realizar a grande transformação de que o mundo precisa.
Compreender o "coração" nas Escrituras
Todas as religiões têm seu modo particular de conceber o "coração". É o lugar onde Deus reside, onde se pode receber a graça de Deus ou onde se pode experimentar a pura energia espiritual. Também a Sagrada Escritura nos oferece belas afirmações acerca do coração. Por elas aprendemos que o coração é a chave para alguém se relacionar com Deus, para ver e experimentar Deus e, também, para amar e relacionar-se com cada pessoa humana. O coração é a fonte ou centro de controle que determina as escolhas e decisões de uma pessoa, e revela sua identidade. De fato, a "mudança de coração", a "purificação do coração", é um requisito essencial para experimentar a transformação do próprio ser e torna-se o terreno perfeito para que toda energia positiva flua para a vida.
Por que não falamos com o coração?
Falar com o coração não é um gesto espontâneo. Com frequência nossas mentes e corações estão cheios de preconceitos, medos, ansiedades e inseguranças; e nossa comunicação torna-se altamente precavida. Por um lado, os sentimentos de orgulho, de inveja, o ego e o egoísmo nos impedem de abrir o coração. Por outro, as emoções “amargas”, como raiva, culpa, vingança, não nos ajudam a sentir o coração do outro. Queremos comunicar mais sobre nós; outras vezes faltam a verdade e a caridade: faltam ou delas há muito pouco... Não nos comunicamos ouvindo, compreendendo o outro.
Nossa comunicação não envolve sintonizar, ouvir com paciência, compreender o outro adotando uma atitude imparcial. Somos tão teimosos em nossas ideias e pensamentos que ficamos a filtrar ou a distorcer o que o outro está a dizer. Por vezes, em nossa comunicação, em vez de benevolentes, as nossas intenções e propósitos são vingativos, tinhosos, mesquinhos. Como resultado, não reconhecemos o outro como nosso irmão ou irmã; outras vezes, é a raça, a cor, a língua, o status social a tornar-se obstáculo vital à nossa comunicação.
Comunicação de Jesus de coração a coração
Jesus era um excelente comunicador: falava com o coração. Tinha personalidade magnética. Era capaz de entrar no coração de cada pessoa. Tocá-la. Curá-la. Transformá-la, porque falava de coração a coração às pessoas. O exemplo por excelência é o episódio dos dois Discípulos no caminho de Emaús (Lc 24,13-35), que, dentro deste tema, o mesmo Papa Francisco nos propõe à reflexão.
Jesus ressuscitado acompanha os dois discípulos de Emaús, sem esperar convite. É paciente. Ouve sem interrupção. Depois, fala-lhes com o coração, acompanhando-os com respeito pelo caminho do seu sofrimento, propondo em vez de se impor. A sua escuta atenta e o seu falar com o coração fazem com que os dois se sintam verdadeiramente ouvidos e realizados, e os seus "corações se inflamem", e voltem com alegria para anunciar Cristo Rressuscitado aos seus irmãos e irmãs.
Como falar com o coração?
Falar com o coração não significa adquirir uma habilidade ou falar com a pessoa na hora ou lugar certo; nem mesmo fazer a coisa certa. Não há necessidade de uma preparação especial ou um planejamento prévio, porque este tipo de comunicação brota diretamente do coração e se dirige ao coração do outro. É a comunicação em seu nível mais profundo, que se conecta com o que é importante para a outra pessoa. Significa simplesmente ser honesto e genuinamente empático com a pessoa com quem você se está a comunicar. O coração deve ser ouvido; é a fonte suprema da vida, a morada física e espiritual da nossa existência. Somente ouvindo e falando com coração puro é que se pode enxergar para além das aparências e tocar o outro.
O ‘falar com o coração’ nasce fundamentalmente do amor, da verdade e da caridade que residem no coração. Este é o fundamento que abre caminho para toda a conversa autêntica. Não é uma comunicação que espera reconhecimento, valorização, aprovação: trata-se de reconhecer o outro. A chave pois para "falar com o coração" é compreender que se trata de ir ao outro, e não a si. Sem esta atenção e preocupação genuína pelo outro, será difícil, desafiador mesmo, falar com o coração.
Cordialidade: poderosa arma de comunicação
Revolucionar o mundo com a cordialidade, ternura, doçura. As palavras do pai da doçura, São Francisco de Sales, ecoam em nossos ouvidos: "Uma gota de mel atrai mais moscas do que um barril de vinagre"; e o ditado do livro de Provérbios - ‘A língua branda pode quebrar até ossos’ (25,15) – afirma o poder da cordialidade. Hoje, mais do que nunca, falar com o coração é essencial para promover uma cultura de paz que permita o diálogo e a reconciliação.
O Papa Francisco diz claramente que esta escolha nasce de uma preocupação genuína pelos outros; e exorta os comunicadores a fazerem uma revolução com a ‘comunicação do coração’ e a transmitir a "força gentil do amor". Hoje, no dramático contexto de conflitos globais em que vivemos, torna-se indispensável afirmar uma comunicação não hostil, em que a cordialidade possa tocar até os corações mais endurecidos. Não significa comprometer tudo: significa apenas anunciar a verdade com caridade, com doçura.
"Falar com o coração": o coração do processo sinodal
Os verbos "ouvir", "compartilhar", "sentir", "respeitar" refletem os princípios fundamentais da sinodalidade. O Papa Francisco afirma enfaticamente que a escuta sem preconceitos, atenta e aberta, nos permite falar segundo o estilo de Deus, alimentados pela proximidade, compaixão e ternura. Há na Igreja uma necessidade urgente de comunicação que acenda os corações; seja um bálsamo para as feridas; ilumine o caminho dos nossos irmãos e irmãs. Sonho - diz ainda - com uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milênio".
Tornar-se revolucionários que falam com o coração
Sigam seus corações e terão a certeza de achar a vitória. A linguagem do coração pode superar todas as barreiras, destruir todos os inimigos. O provérbio árabe “Lança o coração diante de ti e corre para ele”, diz claramente que – se cada um assumir esta sensibilidade, disponibilidade e compreensão para buscar e oferecer a verdade na caridade – ela se torna a chave para transformar o outro. “Falar com o coração” é uma escolha estratégica, uma ação que visa mobilizar e transformar o outro.
A crença de São John Henry Newman era: "Basta amar bem para dizer bem". Ao citá-lo, o Papa Francisco explica que a verdadeira comunicação não é um artifício, uma estratégia de marketing, um qualquer tipo de manipulação. A verdadeira comunicação, como Newman tão bem a colocou, repousa sobre aquilo que somos: é “um reflexo da alma”. São Francisco de Sales não deixa por menos: «Somos o que comunicamos». É o amor a essência da verdadeira comunicação: repousa em como nos entreamamos. Falar com o coração significa, pois, essencialmente, sentir por meio do outro, sentir com o outro. Quem sabe se a comunicação fosse o eco do coração de cada homem e mulher, a revolução da amizade não poderia curar o mundo, curar a humanidade, de todos os seus males; e poderia transformar o mundo, restaurando a paz e a harmonia...!