Uma autêntica e eclesial comunhão caracterizou o encontro concedido pelo Santo Padre, no Vaticano, em 19 de dezembro de 2025, ao Reitor-Mor e Membros do Conselho Geral da Congregação Salesiana. O que poderia ter sido apenas uma ocasião formal se transformou num diálogo fraterno e espontâneo, graças a uma escolha inicial que estabeleceu o tom de todo o jubiloso procedimento.
Gesto inicial: o abandono dos roteiros
Ao chegar, o Santo Padre informou que preferia conversas ao vivo em vez de longos e preparados discursos. O próprio Papa seguiria a abordagem, abrindo assim um espaço para “uma troca fraterna e espontânea que brotasse do coração”. Tal comunicado preliminar criou de imediato um clima de facilidade e abertura, deslocando a atenção da formalidade ao encontro genuíno.
“Foi exatamente isso o que se deu”, relatam os participantes. O Reitor-Mor falou com simplicidade, compartilhando o desejo da Congregação de comunhão e unidade com o Chefe da Igreja universal.
As quatro linhas de governo da Congregação Salesiana (2025-2031)
Durante o diálogo, o Reitor-Mor ilustrou as quatro diretrizes que estão a guiar a Congregação nos próximos seis anos:
- Conversão e serviço aos pobres. O renascimento espiritual pessoal e comunitário, continua sendo o fundamento da missão salesiana, sempre orientada para aqueles que estão à margem da vida.
- Educação e pastoral no carisma. O aprofundamento das propostas educativas à luz da herança de Dom Bosco, com especial atenção à colaboração com os Leigos na partilha da missão.
- Inteligência artificial e missão juvenil. Um tema decididamente contemporâneo: os desafios e as oportunidades oferecidos pela IA no trabalho com e para os Jovens.
- O papel da Universidade Pontifícia Salesiana. Promover o estudo, a reflexão e a formação para Salesianos e Leigos, mantendo viva a herança carismática no contexto atual.
O Reitor-Mor também compartilhou com o Santo Padre o testemunho de Salesianos e Colaboradores Leigos engajados, em áreas de conflito e guerra, pedindo Sua especial Bênção para aqueles que trabalham em fronteiras tão difíceis.
A resposta do Santo Padre: a paz como empenho radical
O Santo Padre enfatizou a paz como tema central, ressaltando que se trata de “uma luta constante” que merece atenção, oração e, acima de tudo, testemunho. Ele destacou que as pessoas - as consagradas, em particular - têm uma responsabilidade especial em testemunhar a paz nas áreas de conflito em que atuam.
“O fato de serem apoiados por uma grande rede de Inspetorias, Circunscrições, Congregações coloca Vocês em posição privilegiada e exigente, para dar um testemunho significativo” – asseverou o Papa, encorajando os Salesianos de Dom Bosco a não desanimarem perante as difíceis situações globais.
Três questões cruciais - da secularização à IA
- A busca sincera dos jovens europeus
Questionado sobre a secularização entre os jovens na Europa, o Santo Padre respondeu com realismo e esperança: muitos jovens têm expectativas autênticas e as buscam com sinceridade. O desafio é oferecer “uma proposta profunda e uma resposta significativa. Não respostas superficiais ou improvisadas, mas propostas capazes de ir em profundidade; tocar o coração; facilitar a conversão”. O testemunho das Pessoas Consagradas é uma condição indispensável para uma proposta educativa pastoral autêntica.
- A IA qual questão ética global
Sobre o tema da IA, o Pontífice destacou a importância de uma resposta eclesial unificada. Não se trata apenas de utilizar a tecnologia nas escolas: há que “oferecer ao mundo neste setor uma proposta ética e valores”. E indicou os Salesianos como figuras estratégicas no processo de “humanizar a IA e sustentar sua alma ética”.
- A missão no Sesquicentenário
À margem das celebrações do 150º aniversário da Primeira Expedição Missionária de Dom Bosco (1875), o Santo Padre agradeceu aos Salesianos por seu trabalho missionário global. E recordou que “a Igreja é e deve ser uma Igreja missionária” por três razões fundamentais: o anúncio àqueles que não conhecem Cristo; a evangelização dos países que precisam dela; e a coragem de “ir aonde os outros não querem ir” – e sem ceder ao medo.
Diálogo inter-religioso
Sobre o chamado a promover uma cultura de diálogo e convivência entre as várias religiões, o Santo Padre encorajou a continuar promovendo espaços de escuta fraterna, de cultura que faz crescer relações humanas saudáveis e adultas. São essas experiências – marcadas pelo respeito mútuo e vividas em clima de acolhida fraterna – que têm o potencial de dar sentido e esperança aos jovens em sua busca por um futuro marcado pela paz e pela concórdia.
“Fazei o que Ele vos disser” – antídoto para a superficialidade
No final do encontro, o Reitor-Mor sublinhou como a próxima Estreia anual incentivará a Família Salesiana a assumir as disposições indicadas por Maria, de “olhar, ouvir, servir, agir”. São qualidades facilmente ofuscadas pelas ‘distrações’ contemporâneas, em particular pelo “fascínio da tecnologia”.
Os Salesianos se comprometeram a fazer eco ao convite do Santo Padre, conscientes de que as mentes e os corações dos jovens “podem ser tão facilmente arrastados pelas preocupações e atrações superficiais do mundo, enfraquecendo sua generosidade e diminuindo sua vontade de contribuir e de servir a todos”.
Um encontro que ilumina o caminho
No final do encontro, o Reitor-Mor pediu ao Santo Padre uma Bênção ‘especial’ para os Presentes, para a Congregação e para toda a Família Salesiana, para que – apoiados pela presença e em união com o Sucessor de Pedro – possam continuar com esperança a testemunhar o Evangelho aos Jovens.
O clima de família e proximidade que caracterizou o encontro – sublinhado pelo convite aberto do Santo Padre – representa um modelo de sinodalidade autêntica. Num momento histórico marcado por conflitos globais, transformações tecnológicas e a busca juvenil por significado... – o diálogo entre o Magistério e a Tradição Educativa Salesiana oferece uma bússola clara: profundidade e autenticidade, testemunho e proximidade, coragem e audácia na missão.



