“Se, já na encíclica Laudato si’, o Papa Francisco insistiu que se tratava de um chamado para todos, com o Pacto Educativo Global ele apresenta sua proposta de estabelecer uma aliança de solidariedade universal”.
Ao publicar a encíclica Laudato si’, o Papa Francisco não apenas procurou fazer um diagnóstico para denunciar abusos contra o meio ambiente, mas também pretendeu envolver a solidariedade universal no cuidado com a Casa Comum, a fim de “unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral” (LS 13). Cinco anos depois, após o Sínodo da Amazônia, a exortação Querida Amazônia e a crise da pandemia da Covid-19, o Papa Francisco renovou o desafio de construirmos um futuro juntos, propondo o Pacto Educativo Global.
A partir de sua encíclica socioecológica, o Papa Francisco destacou o papel da educação no cuidado da Casa Comum, uma vez que ela promove “os diferentes níveis de equilíbrio ecológico: o interno consigo mesmo, a solidariedade com os outros, o natural com todos os seres vivos e o espiritual com Deus” (LS 210). Além disso, insistiu que “a educação será ineficaz e seus esforços serão estéreis se não procurar também espalhar um novo paradigma sobre o ser humano, a vida, a sociedade e a relação com a natureza” (LS 215).
A visão sistêmica da vida, da natureza e das relações constitutivas da ecologia integral – que nos leva a uma concepção da Casa Comum como uma rede complexa de equilíbrios delicados e não como uma fonte inesgotável de recursos – é um forte e permanente apelo a uma abordagem integral e interdisciplinar dos fenômenos, com formas inovadoras de propor soluções no quadro da dignidade da pessoa humana e do cuidado com a Casa Comum.
Por outro lado, percebemos que o processo educativo que naturalmente deve ocorrer entre a família, a escola, a pátria, o mundo e as culturas, perdeu a sua força e foi quebrado. A proposta apresentada pelo Papa Francisco é um caminho educativo que envolve a todos. Por isso, ele propôs uma aldeia educativa que promove uma aliança em prol do desenvolvimento, da ecologia integral e de uma rede de relações humanas, abertas e sem discriminação.
Ninguém pode se sentir isento de uma responsabilidade social e ecológica.
Um chamado para todos
Se, já na encíclica Laudato si’, o Papa Francisco insistiu que se tratava de um chamado para todos, com o Pacto Educativo Global ele apresenta sua proposta de estabelecer uma aliança de solidariedade universal com o objetivo de “formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e oposições e reconstruir o tecido das relações para uma humanidade mais fraterna”.
A construção desse caminho requer levar em conta a visão de educação apresentada pelo Papa: a educação é uma das formas mais eficazes de humanizar o mundo e a história. Tem um poder transformador que ajuda a quebrar determinismos e fatalismos, bem como a lógica estéril e paralisante da indiferença, e traz esperança para a situação atual. A educação é o antídoto natural para a cultura individualista e é, sobretudo, uma questão de amor e responsabilidade. A qualidade da educação é medida não por testes e notas, mas pela capacidade de afetar o coração de uma sociedade, de dar origem a uma nova cultura e, por conseguinte, de originar novos projetos de sociedade.
Diante das diversas fraturas e fragmentações, um processo educativo renovado deve estabelecer uma aliança entre as dimensões do ser humano, entre as gerações, entre os componentes da comunidade educativa, entre os diversos setores da sociedade e reestabelecer a aliança entre os seres humanos e a nossa Casa Comum.
Comprometimento corajoso com o Pacto Educativo Global
Dizer sim à convocação do Papa Francisco para aderir ao Pacto Educativo Global é um gesto que compromete a pessoa, o grupo e a instituição, devido ao seu vínculo e corresponsabilidade com vida humana e planetária. Ninguém pode se sentir isento de uma responsabilidade social e ecológica. O nosso comprometimento deve ser corajoso “para dar vida, nos nossos locais de origem, a um projeto educativo, investindo as nossas melhores energias e iniciando processos criativos e transformadores, em colaboração com a sociedade civil”.
A exemplo de Dom Bosco e Madre Mazzarello, devemos dar voz às crianças, aos adolescentes e aos jovens, formando com eles movimentos de transformação e implementando ações que gerem impacto na vida deles, em nossa vida e na vida de outras pessoas. O Pacto Educativo Global é um apelo para cada comunidade educativa e para cada pessoa de boa vontade, porque todos, indivíduos e instituições, de maneira própria e específica, contribuem para a qualidade dos ambientes e contextos nos quais se realizam os processos educativos de cada casa salesiana. Coragem!
Ir. Celene Couto Rodrigues, FMA, é mestranda em Educação pela Universidade Metodista de São Paulo, graduada em Geografia pela Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro e animadora Laudato Si’ credenciada pelo Movimento Católico Global pelo Clima. Atualmente é coordenadora de Pastoral da Obra Social Recanto da Cruz Grande em Itapevi, SP e Green Líder da Don Bosco Green Alliance no Brasil