Uma das atividades mais importantes do Centro Salesiano do Aprendiz (CESAM) de Goiânia é a Formação Permanente de Aprendizes. A capacitação dos jovens e adolescentes para temas sociais acontece periodicamente, abordando assuntos transversais relacionados à: cidadania, educação e promoção de direitos.
Realizada nos dias 27 a 29 de maio e 06 de junho, a última edição abordou o combate ao racismo. A formação aconteceu nos períodos matutino e vespertino, recebendo especialistas renomados de diferentes segmentos, incluindo: advogados, psicólogos, professores e assistentes sociais.
O estudo “Percepções sobre o racismo”, realizado pelo Instituto de Referência Negra Peregum e Projeto SETA, revela que o Brasil é racista para 81% das pessoas entrevistadas. Perguntados sobre a principal forma de manifestação do racismo, 66% dos participantes da pesquisa acreditam que é a violência verbal. O ambiente escolar é apontado por 38% dos entrevistados como principal local onde já sofreram racismo e para 29% é o trabalho.
Os dados reforçam a importância da Formação Permanente de Aprendizes debater a luta antirracista também para reconhecer práticas racistas que podem passar despercebidas. De acordo com a assistente social do CESAM Goiânia, Rosana Santana, a atividade tem como foco orientar e conscientizar os aprendizes sobre o tema. “Queremos que eles possam ser multiplicadores nos diversos espaços que transitam e atuem de forma vigilante contra o racismo.”
Ela também ressalta que a formação reflete diretamente um importante valor salesiano: o de promoção da igualdade étnico-racial. “Cerca de 80% dos aprendizes do CESAM Goiânia se declaram negros ou pardos. Então, a formação é uma forma de reforçar a importância do combate ao racismo e fortalecer interna e externamente a luta antirracista.”
O psicólogo, psicanalista e mestre em antropologia social, Patrick Silva reforça a necessidade desta formação também para o mercado de trabalho. “Muitas vezes ele é palco de discriminação e preconceito. Então, poder vir contribuir para os aprendizes da instituição é um modo de atender uma demanda social que é urgente. Com a formação, os aprendizes vão poder ajudar o espaço que estiverem inseridos a ser mais humano, acolhedor e antirracista.”
Realizada pela Comissão de Inculturarte do CESAM Goiânia, a formação abordou aspectos também de história e cultura afro-brasileira. A historiadora e ialorixá, Watusi Santiago ressalta a importância de trazer esses temas para os aprendizes, sendo também uma forma de garantir o acesso à informação. “Possivelmente, muitos destes jovens não terão contato em outros espaços. Então, é uma maneira de projetar essas pessoas e fazer com que eles possam se reconhecer e se localizar no mundo.”
Watuse é voluntária do CESAM Goiânia e reforça o papel da instituição no desenvolvimento dos jovens e adolescentes para além do mercado de trabalho. “Sempre tivemos uma grande parceria na perspectiva de trazer novos assuntos. Eu acredito que isso faz muita diferença para os aprendizes porque o propósito é desenvolver o jovem para a vida.”
O aprendiz Shernon Marley Moraes afirma que a Formação Permanente de Aprendizes traz informações relevantes para a cidadania e que o ajuda a conhecer diversos contextos do país. “Também faço parte da cultura negra. A gente não se sente pertencente por falta de conhecimento, então o evento elucidou de que maneira podemos conhecer e aprofundar nosso conhecimento sobre nossas heranças culturais.”
Sherno Marley ressalta a diversidade de temas que o CESAM Goiânia aborda com os aprendizes e que extrapolam a capacitação para o trabalho. “Isso é importante para nossa formação profissional e também cidadã. A instituição realmente assegura a propagação do conhecimento. Essa é uma oportunidade única para os aprendizes do programa.”