Nestes dias de expectativa pelos funerais do 266º Pontífice da Igreja Católica e de projeções para o próximo Conclave, o Cardeal Ángel Fernández Artime, Pró-Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, foi procurado por vários meios de comunicação para contar sua experiência direta com o Papa Francisco e receber indicações sobre o perfil do novo Pontífice.
O Cardeal espanhol conheceu Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, quando Cardeal-Arcebispo da Capital: "Lá vivi cinco anos como Inspetor dos Salesianos e foi lá que nos conhecemos. Lembro que Ele viajava serenamente de Metrô, quando os vagões ainda eram de madeira, visitando as Villas Miserias, e lembro que, nas vezes em que fui ao Palácio Episcopal, sempre foi o Cardeal-Arcebispo a abrir-me a porta. Ele era um homem que era simplesmente um pastor, um homem de fé profunda e convicta".
Como o senhor recebeu a notícia da morte do Papa Francisco?
Não esperava por isso, claro! Era um dos que acreditavam e viam que o Papa estava a melhorar. Lentamente, mas melhorando! Francisco nos deixa em momento histórico importante.
Qual é a prioridade agora?
Agora, devemos prosseguir, com serenidade, nos próximos dias, para o seu Sepultamento, no local que ele escolheu e com a sobriedade que ele quis, na Basílica Papal de Santa Maria Maior. Basílica, que me é mui querida, porque foi lá que eu fui ordenado Bispo.
Como V. Emcia. avalia as ações do Papa Francisco?
O que o Papa Francisco trouxe foi realmente uma providência de Esperança. Bento XVI, em sua época, contribuiu de forma extraordinária por sua visão intelectual, filosófica, teológica. E, num determinado momento, disse: "Cheguei até aqui: acho que deve vir outro". E eis que chega um Papa – ‘que veio do fim do mundo’, como ele mesmo disse - . Um Papa que sempre quis uma Igreja em diálogo como mundo. Um Papa que tentou, por todos os meios, aproximar a Igreja dos mais humildes, dos mais aflitos da Humanidade. Um Papa que sempre manifestou um grande repúdio pelos abusos de poder, pelas guerras, pelas mortandades. Um Papa que sempre teve um olhar corajoso e profético: e, claro, nem sempre aceito por todos.
V. Emcia. acha que o Papa previu esse desfecho?
Acredito que ele estava muito bem preparado, conforme disse várias vezes, para aceitar o último instante de sua existência e desejar servir com excelência até o fim. Acredito que, num dia tão importante como um Domingo de Páscoa, ele também teve a oportunidade de se despedir do povo de Deus, embora sem o saber. Não tenho como saber em como ele se sentisse: mas, mesmo cansado, conseguiu se despedir do Povo; mesmo enfrentando a dificuldade de falar, conseguiu se mover por entre as 50.000 pessoas presentes na Praça de São Pedro.
E depois do funeral?
Os Cardeais serão convocados para o Conclave. Como ‘credente’, eu realmente ‘creio’ que, com todas as mediações humanas; com toda a dinâmica inerente àqueles que pensam de forma independente ou àqueles que desejam agir de maneira honesta - se procederá a uma tentativa de escolher o Papa mais adequado dentre os Candidatos do Mundo Contemporâneo.
Teremos uma continuação ou uma inversão?
Não acredito que depois de uma determinada linha se tenha um "efeito pêndulo". Tudo o que vivenciamos é uma caminhada. A história da Igreja tem sido assim. Minha perspectiva é de grande Esperança, de grande serenidade. (...)
Muitos me perguntam se o próximo Papa vais ser progressista ou conservador. Respondo que o Papa do futuro não será nenhum dos dois. Ele há que permanecer ancorado em Jesus Cristo, no Evangelho, na Tradição Apostólica, pois é isso que vem mantendo a Igreja há 2000 anos. Mas ele também será um homem que saberá manter vivo o diálogo com o mundo, porque daqui a 10 anos o mundo não será o mesmo de hoje.
Entrar para o Conclave causa vertigem?
Nenhuma vertigem, porque, aqui, estamos todos no mesmo nível como membros do Colégio de Cardeais. Certamente, será uma experiência única. Pouquíssimas pessoas passam por esta experiência através das épocas. Seja como for, eu a vivencio com grande liberdade de espírito e disponibilidade.
Fonte: El Periodico, Cope