Neste mês, celebra-se a campanha Janeiro Branco. Criada pelo instituto homônimo, seu objetivo é promover o cuidado com a saúde mental em seus mais diversos aspectos. A escolha de janeiro, segundo os responsáveis pelo instituo, deve-se ao fato de que “o primeiro mês do ano inspira as pessoas a fazerem reflexões acerca das suas vidas, das suas relações, dos sentidos que possuem, dos passados que viveram e dos objetivos que desejam alcançar no ano que se inicia”.
Manter o equilíbrio mental exige cuidados. “Essa campanha é de extrema importância, a pandemia nos obrigou a olhar para situações que nunca tínhamos visto antes. Nos ajudou a perceber que precisávamos acabar com o preconceito diante dos cuidados da saúde mental”, explica Julia Costa Pereira, psicóloga especializada em Fenomenologia Existencial. “Foram tempos difíceis e de muita reflexão, o número de pessoas que resolveram pedir ajuda aumentou bastante e falarmos sobre sua importância é o passo essencial para quebrar esse preconceito”, reitera.
Os homens e a terapia
Um relatório desenvolvido pela Pesquisa Nacional de Saúde, em 2019, apontou que 69% dos homens brasileiros procuraram terapia. O número de mulheres, por outro lado, chega a 82%. Por que esta discrepância, ainda que mínima, entre homens e mulheres?
“Realmente as mulheres procuram mais terapia que os homens. Atualmente, no meu consultório, cerca de 90% dos clientes são mulheres”, atesta Julia. “O homem está acostumado à ideia de ser provedor e não reflete sobre os cuidados com sua saúde mental, só procurando ajuda quando chegam ao ápice de sua exaustão”, lamenta.
Este fato, porém, não diminui os obstáculos ao público feminino. A sociedade, segundo a especialista, ainda é organizada de maneira a impor uma carga excessiva às mulheres — e isso faz com que elas procurem ajuda antes. “A mulher se sobrecarrega muito, tendo vários papéis a cumprir, chegando muitas vezes a uma exaustão, procurando mais ajuda profissional”, explica.
A arquiteta Tânica Carvalho procurou ajuda quando se viu cercada de questões sem respostas / Foto: Arquivo Pessoal
A arquiteta Tânia Carvalho é um reflexo deste quadro. Passando por um momento que define como “falta de identidade”, ela resolveu buscar ajuda na terapia quando se viu cercada de muitas questões para as quais não encontrava respostas. “Estava passando por diversas coisas ao mesmo tempo”, conta Tânia. “Término de relacionamento, recém-formada e desempregada. Tinha literalmente um sentimento de falta de identidade. Estava muito mal e não conseguia ter forças para sair da tristeza e desânimo, mesmo tendo apoio familiar e amizades para conversar”.
Foi então que uma amiga a ajudou a encontrar uma profissional. Após um ano sendo atendida por uma psicóloga, a chegada da pandemia acabou forçando a arquiteta a se afastar das sessões de terapia. Com o relaxamento das medidas de restrição, Tânia procurou ajuda mais uma vez, com outra profissional. “Esse segundo retorno foi muito necessário, pois após a pandemia eu tinha o sentimento de fragilidade, irritabilidade, dificuldade de me comunicar, a ansiedade. O isolamento e as péssimas notícias que a covid nos trouxeram contribuiu muito para que eu procurasse um profissional. E desde então, não deixei mais de ir”, relata.
Saúde física e saúde mental
As pessoas geralmente não associam alimentação, vida saudável e prática periódica de exercícios físicos com uma saúde mental equilibrada. Este pode ser, porém, um item que fará toda diferença para quem está se tratando.
“Com certeza, a psicologia trabalha com o equilíbrio entre a mente, o corpo e o espírito”, assegura Julia. “Além disso, a atividade física libera muitos hormônios essenciais para o bem estar integral do ser humano”, lembra.
Samara Virgínia dos Santos Silva, professora, sempre priorizou o cuidado com a saúde do ponto de vista físico e mental. “Penso que tão importante quanto cuidar da saúde física é cuidar da saúde mental”, enfatiza a professora. “Faço terapia há menos de um ano, mas já identifico grandes avanços na minha conduta pessoal e profissional”, acrescenta.
Um outro efeito positivo das atividades físicas periódicas, segundo a psicóloga, é a regulação do sono. “Quando mantemos o corpo ativo, as chances de insônia são menores, podendo até reduzir o uso de medicamentos”, garante Julia.
“Continuarei com a terapia até minha psicóloga acreditar não ser mais necessária ou quando eu mesma perceber que atingimos o que pretendia como meta”, segue Samara. “E volto a dizer que tão importante quanto cuidar da saúde física é cuidar da saúde mental”, finaliza.