A memória do Beato Filipe Rinaldi nos convida a refletir sobre uma santidade peculiar: não a do altar isolado, mas a do encontro concreto com Deus no meio do mundo. Sua vida é um testemunho eloquente de como o carisma salesiano pode florescer e se adaptar para responder aos desafios de cada época.
Filipe Rinaldi não conheceu pessoalmente Dom Bosco na infância ou juventude. Ele ouviu falar dele e, movido por uma curiosidade que era já um chamado, foi encontrá-lo. Esse encontro foi decisivo. Dom Bosco, com seu olhar profético, viu nele um futuro sacerdote. Rinaldi é a prova de que a semente do Sistema Preventivo pode cair em um coração jovem e frutificar de maneira extraordinária, mesmo sem uma convivência longa com o semeador. Ele se tornou, por assim dizer, um "discípulo amado" da segunda geração, aquele que absorveu o espírito e não apenas a letra do carisma.
Como terceiro sucessor de Dom Bosco, Rinaldi não foi um administrador frio. Foi um estrategista pastoral. Ele percebeu que o mundo estava mudando rapidamente e que a Congregação Salesiana precisava aprofundar suas raízes espirituais para enfrentar os novos tempos. Promoveu os estudos salesianos, a formação dos irmãos e a publicação das fontes originais de Dom Bosco. Ele acreditava que a fé e a razão deveriam caminhar juntas, e que um salesiano bem formado seria um instrumento mais eficaz da caridade de Deus.
Talvez sua contribuição mais revolucionária tenha sido a fundação do Instituto Secular das Voluntárias de Dom Bosco. Rinaldi teve a intuição genial de que o espírito salesiano não era exclusivo de religiosos consagrados dentro de uma casa. Ele poderia ser vivido no coração da sociedade, por leigos – mulheres, naquele contexto – que, sem deixar suas profissões, famílias e compromissos sociais, se consagrariam a Deus para ser "Dom Bosco" no mundo.
Isso foi um salto profético. Ele viu que a santidade não é uma fuga do mundo, mas uma transformação do mundo a partir de dentro. As Voluntárias de Dom Bosco são a encarnação dessa visão: mulheres que, com o estilo de Dom Bosco, levam a doçura, a razão e a religião aos ambientes mais secularizados – escritórios, escolas, hospitais, famílias.
A santidade de Filipe Rinaldi não é feita de gestos espetaculares, mas de uma fidelidade criativa e alegre no dia a dia. Era conhecido por sua bondade, sua paciência e sua profunda vida de oração. Ele nos ensina que a santidade salesiana se constrói:
· No encontro pessoal e amável com cada jovem, como Dom Bosco fazia com os meninos de Valdocco.
· Na confiança inabalável em Deus, especialmente nos momentos de dificuldade e cansaço.
· Na alegria como dever religioso, mesmo sob o peso das responsabilidades.
· Na capacidade de sonhar grande e confiar que Deus age através de nossa pobreza e limitações.
O Beato Filipe Rinaldi é um farol extraordinário para nossa época. Num mundo onde a fé é muitas vezes relegada à esfera privada, ele nos mostra que é possível, necessário e santificador viver o Evangelho com paixão no espaço público.
Para os educadores, ele é um modelo de como formar com profundidade e visão de futuro.
Para os leigos, ele é um inspirador, mostrando que seu batismo é uma vocação plena à santidade e à missão, sem precisar sair do seu lugar no mundo. Para todos nós, ele é um testemunho de que a herança de um santo não é um museu para se visitar, mas uma semente viva para se plantar de novo, com coragem e criatividade, no solo de nosso tempo.
Beato Filipe Rinaldi, rogai por nós, para que saibamos, como vós, encontrar Deus no serviço aos irmãos e ser sinais de alegria e de esperança no mundo de hoje.
