(ANS – Turim) – Em 8 de dezembro de 1841, o P. Bosco (P.=Padre=Don, em italiano, que em português fica DOM: Dom Bosco.NdT.), fundador da Congregação Salesiana, iniciava na periferia de Turim um seu “oratório” com o nome de São Francisco de Sales. Era o núcleo do que se tornaria a “cittadella” de Valdocco, onde “tudo começou”. Ali, um grupo de 30 Jornalistas acreditados na Sala de Imprensa do Vaticano e da Imprensa Exterior Italiana passou o fim de semana 16-18 de dezembro, visitando os Lugares que viram atuar São João Bosco. O grupo foi organizado pelo P. Giuseppe Costa, Secretário do Reitor-Mor dos Salesianos, P. Ángel Fernández Artime, e seu Coporta-Voz.
Nessa ocasião, o Reitor-Mor foi entrevistado pelo quotidiano «Avvenire», lembrando como a “missão dos Salesianos seja estar sempre com os Jovens”.
Reporta-se a seguir o texto da entrevista.
«Por quase nove anos, grande parte dos quais passados em visitar as missões pelo mundo – exordia Ángel Fernández Artime - pude ver com meus próprios olhos o bem grandíssimo que nossos irmãos estão a fazer junto com toda a Igreja e com tantas Pessoas de boa-vontade. E o digo sem triunfalismos: acho que hoje somos uma congregação serena, que pode olhar para o futuro com esperança». Confortam-no alguns dados. Atualmente são 14.000 os Salesianos de Dom Bosco (SDB), presentes em 134 Países, que, logo, logo, se tornarão 136. São entre 440 e 460 os noviços que todos os anos fazem a primeira Profissão, com uma relação «muito boa» de 1 jovem na formação para cada 4,2 salesianos. O P. F. Artime fala da presença da Congregação na Ucrânia, tanto nas comunidades de rito latino quanto no de rito greco-católico. Neste ano de guerra, raconta, «nossos coirmãos na Ucrânia se mostraram assaz corajosos; alguns estão sempre nas fronteiras e na linha de frente para levar remédios e ajudas. Não perdemos nenhum irmão: mas a realidade é muito dura. Em novembro pude visionar as fotos da linha de frente da guerra: impossível imaginar como - no século 21 - se possa causar tanto dano humano!».
O Reitor-Mor alude também à presença, discreta, na China continental onde estão «alguns salesianos», conhecidos como tais pelas autoridades e que exercem atividades profissionais. «Por exemplo - especifica – temos um italiano que há anos trabalha com os leprosos; e um excelente professor de letras clássicas que vive num campus universitário».
Durante o encontro há espaço também para temas particularmente delicados, como o do triste fenômeno social do abuso de menores. O P. Fernandes Artime é taxativo: «Para nós que prometemos a Deus, e publicamente, dedicar toda a nossa vida para o bem dos jovenzinhos, ainda que se desse um só caso de abuso, seria pavoroso. Pelo que nos respeita a nós, salesianos, qualquer caso que nos chegue, não se deixa ‘dormir’: instrui-se imediatamente um processo no local para esclarecer o ocorrido que depois se apresenta às autoridades de Roma».
Dito isso, o Reitor-Mor acrescenta: «Mas, se garantir justiça às vítimas é importante, o mesmo se diga da pessoa inocente que foi acusada: torná-la ou deixa-la pasto de um público... voraz é radicalmente injusto, pois sua reputação estaria para sempre comprometida. Nós cremos assaz na justiça ‘de reparação’: há que chegar às vítimas e ver suas necessidades, e quais sejam os pedidos de justiça».
Interpelado acerca daquelas que o Papa Francisco define “as colonizações ideológicas” e sobre o tema “gender”, o Reitor-Mor dos Salesianos recordou que «a coisa mais importante é o respeito pela Pessoa. Não se podem tratar temas tão delicados de modo superficial. A Pessoa é a realidade mais sagrada que existe: a Igreja deve ser capaz de misericórdia, de escuta, de acolhimento, de compreensão: o que não significa abençoar ou justificar tudo».
Quanto à questão de como transmitir a Fé às jovens gerações, o P. Fernández Artime observa: «Tudo, relativamente ao tempo de Dom Bosco, mudou, mas, ao mesmo tempo, nada mudou». Portanto, também uma sociedade profundamente diversa daquela da metade do Oitocentos «não muda o nosso centro: o de uma Fé vivida com transparência, com declinações que, naturalmente, se adaptam às várias realidades», e sem cair no proselitismo, de resto impossível em realidades como os Países muçulmanos e hinduístas; mas sem renunciar a propor o próprio ‘testemunho’ de Fé.
«O importante - repisa - é que não nos envergonhemos de fazer propostas. Depois, cada qual, segundo a própria liberdade e interesse, que escolha. Quando isso ocorre, encho-me de tranquilidade».
Por fim, o P. Fernández Artime sublinha que o trabalho dos salesianos se realiza não só no clássico oratório mas também em outras modalidades, determinadas pela realidade: em centros juvenis e escolas, em casas para meninos de rua e meninas exploradas sexualmente, nas 2800 paróquias confiadas à Congregação, nas 92 instituições universitárias... E também – sublinha – nos campos refugiados, como os de Kakuma no Quênia, de Palabek em Uganda e de Juba no Sudão do Sul: «Trabalhamos pela formação profissional dos jovens, para que não se parem ali, mas aprendam um ofício, e quanto antes possam deixar tais campos».